quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A AMEAÇA DE METAL

Em uma época tão avançada como é a que vivemos nos dias atuais. 
Que a ciência já está tão evoluída nas áreas da robótica e da cibernética. Da biomecânica e da tecnologia em geral...
O sonho de construir uma armadura perfeita, como aquela que possuía aquele velho homem de Ferro das historinhas. Já faz muito tempo que deixou de ser uma simples ideia impossível. Ou de simples ficção.
Alguns verdadeiros gênios, já faz muitos séculos que conquistaram o direito de andar por aí vestidos como verdadeiros paladinos de aço.
Que por causa dessa tecnologia tão avançada, possuem as mais incríveis capacidades e poderes.
Os quais em um longínquo passado remoto só se podia sonhar em ver.
Resistência ao extremo calor, ao frio e até ao vácuo do espaço.
A força de tração e mecânica, tão grande quanto maquinário pesado como guinchos e guindastes.
Visão de raio x, microscópica, infravermelha e visão noturna ou binocular.
E alguns perfeitamente dotados da capacidade de voo e de aceleração parecida com os aviões do passado.
O JOMIR era o robô armadura do meu amigo o Alinsom. E ficava muito tempo em funcionamento por agora, nesta época do ano. Porque ele tava se preparando para se apresentar naquelas feiras de tecnologia que seriam realizadas nas exposições pela cidade.
No fundo ele era um tremendo inzibido, com aquela tecnologia toda que ele fazia tanta questão de usar e mostrar com todo orgulho pra todo mundo. Claro ele não fazia nada de ilegal com ela...
Afinal ser inteligente e ser metidinho por enquanto ainda não é
nenhum crime pelo que eu saiba.
Mas desta vez o JOMIR chegou na hora mais que oportuna!
Ah, antes que eu esqueça JOMIR é uma sigla ta.
Joia Máxima da Inteligência Robótica. É como foi batizado o protótipo de armadura utilizada pelo Alinsom.
Tinha acontecido uma discussão tremenda entre aquelas duas mulheres, porque uma estava com ciúmes do marido ca outra, Foi barraco!
Nem sei o que rolou entre o marido dela e a menina lá...
Ela veio até a cerca viva de madeiras e arame e as trepadeiras de ramadas verdes. Xingou que xingou. Esbravejou e ofendeu todo mundo.
Claro que a moça não iria mesmo ficar quieta né. Nem podia.
Xingou também a mulher de volta e virou aquele bate boca da pêga. Depois de um tempo a mulher se foi e parecia que tudo voltara à paz de sempre. Mas qual nada, era só pura ilusão não é?
Essa mulher voltou foi brava, com uma tocha acesa na mão e danou de pôr fogo nos matinhos em volta do terreno perto da cerca.
Começou a sair muita fumaça branca das braquiárias e as outras plantas que estavam sendo queimadas pela descompensada mulher.
Quando notamos aquela fumaceira toda e viemos olhar, as chamas já iam lambendo à grande altura. Já tava pegando fogo na cerca e aquela fumaceira toda me ardia nos olhos e no nariz. Impedindo de respirar.
Bateu aquele desespero porque a fumaça e as chamas do incêndio iam invadir as casas e logo estariam tão grandes que a gente não ia poder controlar mais.
Todo mundo veio correndo, juntou baldes e bacias de tudo quanto era tamanho e enchemos de água.
Fomos jogando água e molhando a cerca e os matos. E ainda meio que se controlou o fogo.
Porque o capim não tava muito seco e demorou uma data para queimar em muitos lugares.
Mas enquanto a gente apagou naquele lado, aquela mulher diabólica já estava lá num outro lote, tentando queimar tudo ali também...
Ficamos cansados, tossindo e suando muito para apagar o primeiro início do incêndio, e ela já arrumou um outro fogo bem maior.
Daquele lado o fogaréu estava bem pior. Muito mais alto pois tinha um montão de madeiras e o fogo já ameaçava chegar até a casa...
Fizemos tudo o que pudemos, e jogamos água até muito além do limite de todas as nossas forças.
Quando tudo parecia que estaria mesmo perdido chega aí o JOMIR de surpresa aparecendo. Foi praticamente em cima da hora!
Pegou seu extintor de incêndios e mandou tudo que pôde lá nos focos maiores do fogaréu enquanto andava pelo meio das chamas.
E a gente mandando a água nos dez focos menores feito uns loucos.
Com seu potente sistema de som ele orientava bem aonde a gente devia jogar a água e apagar todos os focos pequenos.
Porque os rastreadores e os sensores de calor do robô faziam ficar claro aonde as chama não haviam sido debeladas.
Quando a gente ainda pensava em comemorar que o susto maior passou, ainda pude ver aquela mulher de sorriso sádico e escarninho indo colocar fogo com aquela sua tocha, 
no terceiro lado da cerca que ela ainda não tinha queimado...
Pela crueldade daquele olhar eu logo notei que ela estava louquinha de ódio e maldade. E uma alegria cruel e selvagem a impelia a tentar se vingar botando fogo ali ao redor e tentando fazer pegar nas cercas e até na casa. Pra afogar a gente com a fumaça ou nos cozinhar vivos.
Mesmo tendo visto, parecia difícil de se acreditar...
Quanta maldade e ódio a alma humana era capaz de conter!
O que ela queria era matar todo mundo, queimado ou afogado nas fumaças!
E o novo fogo agora se alastrou muito mais depressa do que daquela primeira vez.
Parecia que o mato estava bem mais seco, e o vento ajudou ainda mais a espalhar as chamas. Foi pior pra gente lutar contra tanto fogo.
E mesmo com a ajuda de JOMIR parecia que a gente ia perder a batalha.
Ela tinha ido embora dando sonoras gargalhadas, depois de atirar pra longe aquela tocha assassina.
A gente correu lá e jogamos e jogamos água e mais água. E fizemos tudo que foi humanamente possível.
Quase que por um milagre os ventos de repente pararam e isso fez com que no finzinho do último instante nós pudéssemos enfim controlar o fogo. Mas sobraram muitas consequências.
As cercas ficaram semidestruídas. As árvores, a madeira e até mesmo a casa sofreu com os efeitos do fogaréu.
Tudo em volta tá queimado, a gente estava sujo e exaustos.
Mas feliz e agradecidos pela valiosa ajuda de Jomir.
Não fosse ela e teria acontecido uma catástrofe.
Entretanto a gente mal tinha parado para descansar e falar um pouco do caso dos apavorantes incêndios.
O JOMIR ainda estava vigilante lá em cima sobrevoando e olhando os restos do atentado.
Veio uma armadura bem maior e parecendo muito mais equipada e mais forte que se aproximou dele.
Tem sempre alguns caras que acham que porque têm muito dinheiro, podem fazer tudo que quiser...
De longe já dava pra notar que aquela armadura havia custado uma pequena fortuna. E era construída em série por uma equipe em alguma linha de montagem...
Algum laboratório importante com certeza.
Mas acontece que o piloto não era propriamente um cidadão capacitado para operar uma máquina maravilhosa como aquela. Tá na cara!
Igual a um possante fórmula um! Uma poderosa armadura como aquela não podia e nem devia ser pilotada por um riquinho qualquer, todo metido. E que não é capacitado a ter nem sequer um skate.
Também não é por ter grana pra pagar por uma que você tem o direito de sair com ela pra passear como quem usa um brinquedinho...
Vendo o JOMIR ali todo atarefado pra apagar o nosso incêndio.
Aquele panaca mauricinho não fez absolutamente nada para ajudar e nem quis colaborar conosco. Ao contrário.
Apenas se limitou a observar a outra armadura em ação e avaliar de longe cada uma de suas capacidades.
Só queria saber do que a outra armadura era capaz...
E agora achou que já podia atacar traiçoeiramente o JOMIR.
Um ataque gratuito de surpresa, e covardemente realizado.
Tava na cara que em uma luta daquelas ele nem teria chances.
O JOMIR seria o Davi pequeno, contra um Golias gigante.
A estatura daquela possante armadura era de quatro metros de altura e era enorme também na largura.
Dava a impressão de ser um homem super marombado, do tipo daqueles atletas fortões do fisiculturismo...
Devia ter pelo menos um metro e oitenta de largura de ombros.
E o corpão todo dava a impressão de querer dizer “olhem pra mim”, e vejam o quanto eu sou forte e poderoso.
Ele pegou o JOMIR por um braço e segurou bem no alto da cabeça com brutalidade. Tentava girar as juntas da articulação do pescoço. Como se quisesse rodar e arrancar a cabeça de uma boneca de plástico.
O JOMIR foi pego de surpresa, mas não ficou parado enquanto aquele robozão abusado tentava desmontar o seu esqueleto.
Ao contrário, segurou bem firme a mão do outro e não deixou rodar e nem torcer a sua cabeça.
Mas se deixasse torcer também, seria o fim para o Alinsom.
O pescoço dele e o da armadura eram um só e o mesmo pescoço.
E os dois acabariam sendo quebrados juntos, se a cabeça virasse.
Vendo que não deu para torcer pela cabeça, ele puxou com raiva e também ela não saiu do lugar para retirar da armadura...
Parecia a cena de um irmão maior de 15 anos abusando de um mais novo de 10. E de longe, vendo daqui do chão onde a gente tava.
Nada podíamos fazer, a não ser ficar em local seguro e contemplar cheios de revolta aquela luta desigual.
Eu não sabia ao certo do que o Alinsom seria capaz de fazer para se defender daquele canalha mecanizado.
Ele sempre me pareceu ser um daqueles caras filhinho de papai.
Meio nerd e mauricinho, metidinho e cheio de frescuras.
Não parecia de forma alguma um homem de ação. Do tipo decidido e capaz de se envolver numa briga pra enfrentar e até derrotar um valentão.
A gente vendo tudo aqui de baixo, torcia pra ele ganhar enquanto os dois lutavam voando a uns 10 metros ou mais de altura.
Na verdade eu tava torcendo pra ele trazer aquele valentão aqui pra baixo. Eu ia desmontar aquele monstrengo de metal todinho na paulada.
E o pessoal aqui em volta ia ajudar heim! As muierada e os caras e até as crianças tavam louco de raiva e revoltado tanto quanto eu.
Loucos pra pegar e linchar ele.
Nós ouvimos de repente soar muito alta, aquela voz bem modulada e que já tínhamos acostumados a ouvir durante o incêndio.
Todos vocês se afastem eu vou me defender desse robô agora.
Eu entendi então que podia ficar muito perigoso pra gente estar parados ali perto em campo aberto se o JOMIR lutasse mesmo contra aquela outra máquina do inferno.
Fui chamando e tirando as pessoas, as crianças. E saimos para bem longe e nos escondemos atrás de umas paredes.
Tinha de apressar ao máximo a retirada.
E pareceu que era só isso mesmo que o JOMIR estava aguardando.
Segurou mais firme a mão direita do monstro e puxou a cabeça até se soltar de vez daquelas garras que pretendiam decapitá-lo.
Pareceu que isso foi até facinho de fazer. Fiquei até me perguntando porque foi que ele esperou tanto tempo par se libertar.
Na certa o JOMIR estava fazendo a análise completa do corpo antes de começar a reagir, só podia ser mesmo isso!
Vendo que o outro libertou a cabeça, o robozão puxou das costas uma espécie de barra meio cilíndrica de quase um metro.
Ela se dividiu em gomos e soltou inúmeras pernas afiadas, tornou-se uma espécie de lacraia robô. E se encaixou sobre a cabeça do JOMIR.
Enroscando-se feito uma cobra. E as patinhas ficavam saindo faisquinhas azuis na armadura. Dando choques.
Com aquela lacraia na cabeça o JOMIR começou a puxar fortemente o braço e se soltou da segunda garra do robozão na marra.
Pegou a lacraia metálica com a duas mãos e danou de puxar até que finalmente a arrancou do seu couro ou melhor da sua couraça.
Ela ficou se retorcendo e soltando luzes laser vermelhas e faíscas tava mexendo as garrinhas afiadas enquanto o JOMIR a esmagava e ele a transformou em uma bola de metal prensado...
Mas o robozão enquanto isso não ficava parado. Se movimentou e das suas costas retirou duas lâminas de corte de altíssima rotação e as colocou em posição, para atacar o JOMIR novamente.
Evidentemente queria desmontá-lo em pedacinhos.
Jomir jogou a lacraia inutilizada na direção do robozão com toda a força e quando o atingiu fez um forte amassado no 
monstrengo e deixou uma marca entre o ombro e o cotovelo.
Aquele afundado não fez grandes estragos naquele colosso.
Velozmente ele veio e passou a sua lâmina no antebraço do JOMIR um pouco acima do pulso esquerdo.
Isso fez uma chuva de faíscas igual a fogos em cascata numa festa de fim de ano.
Achei que ia cortar o braço fora, mas foi incrível. Não fez nenhum arranhão no metal prata. Parecia ser adamantium ou coisa assim aquela porcaria. Não dava pra entender.
Não convencido que o ataque com as lâminas fracassou, ele meteu a outra bem lá na junta do ombro do JOMIR.
Só que parecia que ele estava ficando estressado com toda aquela lutinha idiota.
E dando um golpe rapidíssimo ele arrancou a lâmina do braço com uma violência incrível.
Que fez ela sair dali projetada como uma bala.
Passou-se raspando por uma grossa árvore que existia ali perto e arrancou uma enorme lasca deixando uma fresta em que você podia enxergar até do outro lado atrás da árvore. Cabia até um braço nela.
Logo o JOMIR estilhaçou o outro lado que tinha sobrado da serra de alta rotação. Mas o robozão não se dava por vencido...
Pegou um eletrodo parecido com um daqueles de solda.
Que emitia uma luz cegante e soltava inúmeras fagulhas. E tentou passar aquilo pelo corpo do JOMIR, não se importando muito em que lugar que aquilo poderia encostar na armadura.
Mas o corpo do JOMIR não era afetado pela solda e nem pelas faíscas, línguas de fogo e energia elétrica que escapavam.
Ele ainda lançou um tipo de laser diretamente sobre o corpo do JOMIR mas também não fez nada do efeito esperado.
A luz só iridesceu e se dispersou sem causar maiores estragos.
Vendo que a coisa estava ficando séria ele pegou um maçarico, mas desta vez o Jomir não deixou mais ele usar...
Com um movimento rapidíssimo arrancou da mão dele e atirou para o chão com toda força e o objeto sumiu.
Foi parar alguns metros debaixo da terra.
E o JOMIR passando ao ataque foi para cima do robozão e a primeira coisa que ele fez foi se jogar em cima do outro robô. Usando um raio laser potente mas fino na couraça do braço direito.
Isso quase não o afetou muito, apenas dificultou-lhe os movimentos.
Pude entender que o JOMIR tentava inutilizar estragando o mínimo possível aquele robozão...
Mas isso porque tinha o detalhe que havia um ser humano ali dentro daquela máquina do mal.
Não se podia destruir a armadura, sem que o homem que estava dentro fosse aniquilado junto com ela.
Atacou também agora, o braço esquerdo.
Mas o robozão estava de sobreaviso e o agarrou violentamente num abraço de tamanduá. E o apertava tentando a todo custo esmagar.
Com aquela sua voz bem modulada ele nos disse:
Quando eu descer podem jogar um pouco de água em nós.
A ordem era bem clara, e a gente correu em busca dos baldes e das bacias que usamos no incêndio.
E quando voltamos os dois ainda estavam embolados, mas iam descendo lentamente. Parecia que o grandão tentava 
evitar isso a todo custo. Mas não conseguia impedir a descida até o solo...
Nós chegamos e já jogamos muita água. Molhamos os dois robôs por todos os lados, da cabeça aos pés como se agora fosse nele o incêndio.
Depois disso JOMIR voltou a mandar que todos nós ficássemos ainda mais longe do que antes a gente tinha ficado.
Ele agora estava lá parado bem no meio do terreno aberto.
Ali parecia um tipo de campinho de terra vermelha e ressecada.
O dia estava ainda bem claro. E tinha uma poucas e esparsas nuvens no céu ainda bem azulado.
Mas de repente o JOMIR começou a brilhar e a atrair partículas. A ficar muito fosforescente, sei lá. Estava todo ionizado.
De súbito caíram uns raios sabe lá vindos de onde no céu.
Como se o JOMIR tivesse ligado para raios bem no meios de uma tempestade.
Veio uns raios coloridos em rosa, laranjado, azul, verde e brancos.
Rasgando o ar com um barulho ensurdecedor.
E todo mundo que tava perto di mim fugiu correndo, como uns loucos desesperados.
Mas eu simplesmente não podia me mexer dali.
Ficava olhando as descargas totalmente fascinado. E eu tinha a perfeita noção que cada cor diferente de raio equivalia a uma diferença de voltagem das suas descargas de eletricidade.
Não tinha nenhum daqueles raios que tivesse menos do que talvez 3 milhões de volts, mas a maioria chega aos 5 milhões.
E era o robozão quem recebia toda aquela carga de
energias na sua cabeça e por todo o corpo. Ele não tremia nem esboçava reação.
Parecia ter se travado segurando o JOMIR como um carrapato que se prende mesmo após ter sodo dedetizado.
E os raios caiam e ofuscava até a vista eu olhar. Mas notei que o JOMIR continuava cortando a armadura do inimigo em muitos pontos e em vários pequenos lugares com o seu laser.
Enquanto isso atraia toda a chuva de raios sobre ele.
De muito longe era visível aquela dança de raios e fogo no céu.
Porém quando se encerrou o JOMIR estava lá impávido
E o robozão já não era capaz de se mexer e nem de fazer mais nada.
Estava todo travado e paralisado ao ponto de não ter nem mais energia. Apesar de toda aquela eletricidade que havia caído sobre sua estrutura de metal.
E começou a se ouvir uma voz lá de dentro dele. Meio abafada.
Ei. Me tirem daqui me ajuda.
O JOMIR mexeu um pouco e logo abriu uma brecha na armadura. E saiu de lá um rapaz branco com um sorriso amarelo. Com cara de cachorro que acabou de cair da mudança. Todo sem graça.
A voz de JOMIR parecia inflexível. Não havia emoção alguma.
O que foi que aconteceu? Por que você me atacou?
Não fui eu, minha armadura estava fora de controle
Acho que mudei errado alguma coisa na programação, sei lá...
Entendo, então foi por isso que tentou me desmantelar.
Pensei que ele queria ganhar um prêmio na feira de robôs e foi por isso que achou que poderia te eliminar como adversário e competidor.
Ah feira é só uma droga de competição. Alguém poderia ter sido destruído quando esta máquina partiu para cima de mim.
Já disse que não foi culpa minha... Agora vou ter que chamar a minha equipe e mandar levar de volta o meu robô. Vou consertar.
Você é quem sabe, boa sorte então.
Puxa que máquina você tem eim! Como foi que você conseguiu?
Foi um projeto de meu pai. Eu aperfeiçoei e construí tudo sozinho. A maioria das peças foi eu mesmo que fiz.
Nossa que máquina a sua. Alguma vez já participou de lutas de robôs em alguma arena? Como é que se chama?
JOMIR. Joia Máxima da Inteligência Robótica!
Puxa, que legal. Porque eu nunca ouvi falar de você?
Eu participei da feira só como demonstração duas vezes...
Agora vou deixar você ai cuidando da sua máquina.
Há, mas agora máquina era a maneira de dizer né.
Sucata seria o nome mais correto para chamar o robozão no atual estado em que se encontrava. Virou só o refugo.
O processador e as centrais de dados não prestariam pra mais nada.
E também muitas peças estavam derretidas e avariadas. Fundidas.
Um equipamento interno caríssimo agora estava inutilizado e se queimou para sempre. E só umas poucas peças isoladas iriam poder ser retiradas e se aproveitaria em alguma outra máquina, mas...
Eu tinha escutado todo aquele papo furado do carinha.
Tinha visto o que o JOMIR teve de fazer pra salvar aquele cara.
E agora via com péssimos olhos a coisa toda.
Você acha que ele fala a verdade que o robô armadura

dele que tem a culpa porque realmente deu um defeitinho?
Não sei, acho que não confio muito...
Tenho certeza JOMIR. Ele te atacou de propósito, de caso pensado. É um daqueles riquinhos metidos a besta que faz luta na guerra de robôs. Tenha muito cuidado com este cara e essa tal equipe deles.
Já tive o pressentimento que esse sujeitinho não presta
Pra que ele alteraria a programação de um robô afinal?
E ainda saiu falando que não era ele que controlava. Mentira dele!
Todo robô tem um botão de desligamento automático de emergência.
Era só ele desligar e o robô ia para na hora, sem fazer nada que fosse perigoso pra ninguém...
Sabe que eu não tinha pensado nisso...
Tou te avisando JOMIR, esse cara ai não presta. Aposto que ele já deve estar planejando como fazer pra poder atacar você de novo.
Ele ou algum amiguinho lá dessa equipe dele. Talvez tente até roubar a sua máquina...
Também não confio nele. Soa tudo meio falso.
Sim eu percebi que você não quis dizer nem seu nome pra ele.
Fez muito bem. Vi que o olhinho dele brilha de cobiça pelo seu robô.
Sim, também achei estranho, parecia que ele tava admirando até demais.
E ainda falou em lutas e aposto que ele tava pensando no JOMIR lutando nessa tal Arena com algum outro robô. Porque o dele não deu nem pra saída...
Você talvez devesse chamar a polícia cibernética não é melhor eim? Não! Nem posso fazer isso, eles iriam periciar o
meu robô e talvez até prender por meses. Eu fiz modificações recentes.
Ainda tenho de informar isso e levar para fazer a inspeção e pedir a autorização. Se eu denunciar aquele otário, eu vou ficar ainda mais no prejuízo do que ele...
Eu entendi. Mas aposto que não vai ser a última vez que ele vai ti arrumar essas encrencas em JOMIR. Toma cuidado.
É, vou andar de olho mais aberto de agora em diante.
Nem tenho como agradecer o que você fez naquele incêndio todo cara.
Se você precisar de mim, qualquer coisa é só falar.
Valeu, obrigado. Agora vou pro laboratório fazer uma revisão.
Quero ter certeza de que aquele combate todo não causou nada.
Eu já tinha entrado até no meio de um incêndio...
Tá certo então, apareça ai outra hora.
Logo o JOMIR se perdia na distância, voando baixo.
Pois é, estou virando fã desse cara. Se arriscou muito em apagar todo aquele incêndio. Depois vai e derrota um robô de guerra com o dobro do seu tamanho.
Por falar em incêndio, vou ter que conversar a sério com aquela desmiolada eim. Que história foi essa de daquela mulher vim aqui e botar fogo em nós todos, só porque tá com ciúmes do marido?
Mas isso vai ter que ficar pra depois. Eu vou lá espionar o besta que era dono daquele robozão. Putz pensei que o JOMIR fosse até perder aquela luta.
Nunca pensei que o babaquinha do Alinson fosse capaz de lutar e se defender de um ataque igual ele fez.
Ele parece meio bichinha tem hora. Achei que ele ia só apanhar e nem ia reagir... Podia ter só fugir né.
Ei. Mas espera ai. Cara quanta gente e quanta máquina só
para ir recolher aquela sucata de robô.
Epa, ô, cadê o rasgadão que a lâmina tinha feito na árvore?
Pegaram a lacraia de metal, e até já puxaram lá do fundo da terra o maçarico do robozão.
Parecia rápido, rápida e metódica até demais a tal equipe que ajudava aquele cara. Certeza absoluta que aquela não era a primeira vez que eles faziam aquele tipo de limpeza.
Tirando tudo que era vestígio sem largar a mínima pista para trás.
Eu tava bem escondido e só filmava a movimentação do grupo..
Com certeza que eu não devia ser visto ali.
Eles podiam achar bem ruim serem filmados na sua obra de limpeza e pente fino.
Uma pena que eu não podia me aproximar demais e ouvir o que que eles tanto conversavam. Teria adorado ter mais alguma informação.
Mas era claro que estes caras aqui iam importunar o panaca do Alinson pra fazer contra ele alguma outra luta de robôs.
O pior é que nem podia usar agora essas imagens pra denunciar estes criminosos, porque iria prejudicar o Alinsom.
O mais certo que este malandro faz agora é se cuidar viu...
E realmente seria muito bom que o piloto do JOMIR pudesse ver que estranhos pensamentos aquele riquinho ali estava tendo.
Ainda olhando com pena os destroços do robozão dele que tava lá esticado na plataforma de transporte o carinha comentou:
É você ganhou desta vez. Mas eu ainda vou pegar na curva esse seu protótipo de robozinho, ou JOMIR.
E até eu já sei quem vai me ajudar.
Tenho é que falar com o Shadow imediatamente.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

EU ENCONTREI COM O MICHAEL JACKSON




Eu estava passeando numa rua em frente da minha escola...
Quem sou EU ?
Leonardo, 12 anos 1,62 de altura, 54 quilos.
Até que conheço um pouco de música, e por mais incrível que possa parecer.
Eu nem gosto muito de boa parte das músicas que a gente escuta hoje em dia. São muito é barulho...
Eu tava caminhando perto de uma bela lanchonete que tem ali na esquina.
E estava tocando alto ali nas proximidades uma música muito bunita de quando o Michael Jackson tinha quase a minha idade e quando ele ainda era da minha cor também.
Chama MUSIC AND ME. A MUSICA E EU.
Pois é, o som nem tava muito alto mais ainda tava bom de escutar aquela música.
Logo eu percebi que tinha mais alguém cantando.
Olhei lá pra dentro espantado porque aquela voz vinha era lá de dentro do salão.
Alguém cantava com a voz tão idêntica e tão perfeitamente igual ao play back que lá dentro as pessoas nem percebiam nada.
Eu com o meu olho comprido pra dentro da vitrine, pensava que ia ser delicioso eu poder devorar também um poderoso sanduichão daqueles.
Que ainda vem com um copão gigantesco de coca-cola.
Mas minhas moeda no meu bolso só pagava o ônibus de volta pra casa.
E agora eu nem peço mais dinheiro em sinal.
Sempre vem algum engraçadinho e ti junta pelo braço querendo ti pôr num abrigo de menor e ti “salvar' de virar moleque de rua.
Aquela droga é uma selva, e tá cheio de pirigosos, mandões metido a chefão do crime.
Além de ter regra de horário pra tudo. E você num pode nem espirra que já estão querendo que você explique o que que tem no seu nariz.
Enquanto eu olhava toda aquela gente comendo tanto, não parei de ouvir a música que tocava.
Foi aí que eu vi quando alguém saiu pela porta lá do outro lado e passou ali bem pertinho.
Cantando perfeitamente naquela língua complicada que os povo fala lá do estrangeiro, cheia de palavra que o meu ouvido mal separa um som do outro.
Sem querer eu fiquei procurando quem era e saí andando atrás
do som da voz daquela música.
Ia olhando pra toda parte e ao redor naquela rua movimentada cheia de gente passando em todos os sentidos.
Gente indo e gente vindo, gente entrando e saindo da lanchonete.
Aonde que eu ia ver nada quem é que tava cantando .
Mas eu seguia a voz de perto e fui caminhando sem me afastar dela.
E isso já me mostrava que pelo menos a gente tava indo era na mesma direção.
Ali perto da esquina a voz parou e ficou esperando para atravessar a rua.
Eu também ia indo e quase alcancei, mas novamente perdi de ver a pessoa no meio daquela multidão de passantes.
Atravessei a rua também, confuso e perturbado. Como quem sai por aí perseguindo fantasmas...
Mas lá do outro lado da avenida o movimento de pessoas ainda era menor e eu pude finalmente ver de costas uma pessoa alta parada ali na calçada.
Ainda meio longe e eu chamei : _ Ei moço ! Ei você aí que tá cantando aí.
E quando aquele cara virou pra mim eu olhei na cara dele e quase morri de susto !
Parecia que era o cantor da televisão, o tal de Michael Jackson.
Mas esse cara não tinha morrido ?
Foi o que eu também pensei na hora! Mas ele tava ali.
E não era aquele Michael Jackson velho e acabado que ele era agora no final não !
Era um cara novo, com cabelinho de neguinho que nem nóis assim gente normal.
Tava com cara de gente. Não com cara de artista daqueles que bota tanta tralha no rosto e no cabelo que parece até aqueles manequim di vitrine de loja de roupa.
E quando eu chamei ele ainda tava cantando, com a voz tão limpa e igualzinha ao som da lanchonete.
Que eu achei que tinha algum rádio com ele.
Afinal quem é que canta assim tão bem ao vivo não é ?
Mas o que me incomoda nesse cara não é que ele canta!
É o fato de que ele até já morreu !
E quem é que não sabe disso ?
Acho que o mundo inteiro comentou quando aconteceu aquilo lá.
Mas o milagre a gente não explica né.
Agora ele mesmo estava ali, bem ali. E com uma saúde de ferro e 
cantando duma maneira que já faz muito tempo, nem ele mesmo tando vivo não cantava mais.
Tava rindo e alegre até demais para um morto não é ?
Tava era vivinho da silva, até da di pensar que artista é imortal.
Quando eu falei com ele parecia que ele tava entendendo tudo.
Porque ele parou e riu. E ficou ali me olhando sem parar de cantar.
Como se fosse algum tipo de mágica, apareceu na mão dele um copão de refrigerante e um pacote lá da lanchonete.
Com tudo fechado e um sanduichão enorme, daqueles com tudo dentro. Tudo que tinha direito.
Só depois de começar a comer é que eu percebi que eu tava tão com fome.
Ele só me olhava e ficava rindo enquanto eu comia.
Decerto porque eu me lambuzava todo com ketchup e a maionese pela cara toda.
Mas eu finalmente acabei de comer.
E perguntei se ele era realmente o verdadeiro Michael Jackson.
Pra variar ele lá na língua dele confirmou que era sim.
Milagrosamente eu entendi o que ele queria dizer.
E mais pra incomodar do que tendo alguma duvida da identidade
dele eu o desafiei : _ Então me ensina aí a dançar igual a você...
Faz aí o moon walk pra mim ver. Eu ainda não consigo...
Isso sim era verdade, eu nunca consegui aprender sequer a começar a fazer esse tal de moon walker que era a marca registrada dele.
O pior é que esse cara não é desse planeta !
Fazendo uns barulho com a boca, estalando os dedos já criou um ritmo pra dançar e já saiu se flutuando como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Andando pra trás até bem longe fez um giro completo ali parado.
Depois voltou de lá pra cá do mesmo jeito que tinha ido.
Parou bem do meu lado e deu aquele giro de várias voltas rapidíssimas, que a gente fica até tonto só de olhar fazer.
Esse aí era o Michael Jackson sim ! - eu pensei.
Aí eu falei : _ Ou ! PERA AÍ ! PERA AÍ ! PERA AÍ CARA...
Me ensina aí também a fazer esse negócio pô ! Mostra aí brou.
__ Primeiro você tem que que deixar o corpo bem leve. E vai apoiar o peso com este pé e o peso vai só deslizar.
Depois o outro se desliza também e você movimenta os dois quase ao mesmo tempo.
Depois é só ir fazendo...
Cara, fui fazendo junto com ele e e o cara ia mostrando enquanto me explicava.
E o passo do tal do moon Walker que nunca eu na vida toda num tinha feito, foi saindo naturalmente.
Consegui fazer com perfeição.
Igualzinho ele tava fazendo...
Mas também aprender com o mestre é outra coisa né. Nunca tinham me ensinado essa droga direito.
E agora que eu sabia fazer parece que já era tão fácil.
Fiquei fazendo indo e voltando, e o cara tinha parado ali pra ver eu dançando o moon walker.
E quando eu cheguei e parei do lado dele. O cara tava batendo palma pro moon Walk que eu tava fazendo.
Quantas pessoas na vida já tiveram uma moral dessa ?
E o pior é que ninguém mais vai ter não é ! O cara morreu...
Achei melhor eu aproveitar, só pra insétizar mesmo ele.
Mandei ele fazer o moon walk pra frente pra eu ver como que era também.
Quando ele fez e me mostrou umas duas vezes eu falei:
_ Pera aí ! Deixa eu tentar acompanhar também.
E eu fui fazendo junto o moon walk pra frente. Mas agora eu já tava craque tamém né.
Fiz igualzinho ele fazia e ao mesmo tempo.
Devia estar engraçado um grande e um piqueno fazendo o
mesmo passo e dançando ao mesmo tempo.
Quase como se fosse um espelho.
E agora ainda tinha o teste final, aquele passo que é rodar parado no mesmo lugar e ir andando de lado também.
Ele mostrou, começou a fazer e eu logo acompanhei.
Fiz igualzinho de novo .
Ééééé ! Tá pensando o que ? Agora eu num sou fraco não. É guri.
De repente eu tive uma brilhante ideia...
E se eu levasse o cara pra minha escola !
Os pisos da escola era maneiro. A gente podia ensaiar lá
Eu tinha guardado minha caixa de música no meu armário.
Depois que a piquena que eu tinha comprado o otário do meu tio Cleitão trocou em duas daquelas garrafa daquele whisky
paraguaio.
Ah nunca mais guardei foi nada lá em casa !
Lá em casa, nem dá pra chamar aquele barraco lá de casa em !
Aquilo lá deve tar um chiqueiro agora!
Ele já deve ter bagunçado tudinho de novo...
Quase que eu ri pra caramba quando ele chegou e falou: _ Cadê o dinheiro que a dona Alice ti deu ? Já revirei a casa toda e num achei ! Olha a bagunça que tá aqui !
Hé, héé. Só porque ele quer que eu ia dar o dinheiro do salgado
que eu vendi da dona Alice pra ele tomar a cachaça né.
_Ah tiu! Eu usei todo o dinheiro pra pagar coisa da escola. E ainda ficou até faltando... - falei pra ele só di chato.
Eu já sabia que as borracha ia comer na minha costa de novo !
É chato até chato cê ficar lembrando das lambadas que ti deram antes di ontem...
Só que eu não ia levar o Michael Jackson lá em casa só pra ver eu apanhar igual daquela vez na frente do Gustavo.
Mó vergonha que eu passei né. Até os povo vieram perguntar pra mim depois.
Lá na escola o Michael vai pirar com aquele palco do teatro que tem lá.
Lá sim vai dar pra gente ensaiar...
__ Ô Michael ! Vamo lá na minha escola pegar a minha caixa e daí eu vou ti mostrar as musicas que eu tenho nela. Vamu.
_ Tá bem, vamu lá...
Que coisa incrível ! Eu sair andando por aí com o Michael Jackson !
A molecada ia morrer de inveja do neguinho aqui. Pensa.
Pena que eu sei que esse cara num tá nada afim de aparecer pra multidão.
Quando ele ainda tava vivo ele já não gostava...
É uma sensação muito estranha a gente andar com um morto por aí. Ainda mais sendo um que todo o mundo sabe que morreu.
Começou a me dar a impressão de que logo logo isso ia dar merda. Tava na cara !
__ Ainda bem que a minha escola fica bem ali mesmo nessa rua. Se fosse mais longe eu não ia nem chamar você pra ir lá comigo.
Você tá entendendo o que eu falei, vamo lá então ?
_ Oh, ok vamos.
Eu ainda não sei como que você agora tá falando português assim tão bem.
_ Oh agora não é tão difícil.
Ainda bem que a gente já chegou ! Num falei que era bem pertinho ?
__ Sim é muito bom. Aqui ser um bonita escola.
Pra mim é aqui que é a minha casa .
Quase igual no castelo aquele onde estuda o Harry Potter, lembra ?
__ Ei. Não quero encontrar muita gente ainda !
Ah, tá tudo bem. Vamo lá no teatro então. Pera aí vou pegar a caixinha de som tá bem ? _ saí correndo e fui até o armário e já ia saindo quando vi o Vitor e o Suíno, aí chamei eles.
Gente vamo ali que eu quero ti mostrar uma pessoa.
Mas quando eu cheguei lá na entrada o cara tinha sumido, num tava mais lá.
E o Suíno saiu batido, nem sei onde ele ia com tanta pressa, ou cara sujeira ! kkk
Por isso que chamavam ele de Suíno ? aff Só podia.
A gente saiu andando e logo vimos o Michael lá no corredor.
Nem precisou eu apresentar o Vitor, ele mesmo sempre se adiantava.
_ Cara ! Você é o Michael Jackson, eu chamo Vitor Hugo...
Esse Vitor é mesmo um pateta ! Tu acredita que ele é a única pessoa do universo que ainda não sabe que o cara já morreu ?
O cara estar aqui é um milagre. E de tão mané ele nem vê isso.
Levei o Michael para o teatro e ele e o Vitor foram cada um de um lado.
Deixei a caixinha na mão dele e subi no palco com o Michael. Toca as música aí Vitor, a gente agora vai ensaiar.
O Vitor ligou a caixinha e começou a procurar as músicas.
Mandei ele procurar a música triller, parecia que ele ia levar a vida inteira pra achar...
O sobrenome dele era Salerno. Mas pra nossa turma ele era o Vitor Hugo Palerma mesmo. aff Que guri lerdo !
Mas finalmente ele encontrou as musicas do cartão e pôs pra tocar.
O som da caixinha nem era tão alto, mas mesmo assim dava pra ouvir. E nós começamos a dançar aquela dança dos monstros.
Daí o Jackson de repente fez uma mágica lá e apareceu um telão daqueles enorme atrás de nóis.
Daquele tipo que ele usava em shows pelo mundo todo.
Eu nem entendi direito o que ele fez.
Mas de repente saiu do chão uma fumaça verde que que foi mudando de cor e pulsando, ficando colorida.
E quando terminou de ficar branca e sumir, lá estava o telão perfeitinho e funcionando a todo o vapor.
E já tava aparecendo umas imagens dele quando era criança dançando e comparando o jeito dele com o meu. Porque a gente se parecia um pouco na aparência física.
De repente o som da música dele encheu o salão e o palco do teatro com uma aparelhagem de som que eu nunca tinha visto na minha vida.
Com umas luzes e holofotes de tudo que era cor.e tamanho.
Parecia que agora que ele tava morto, o cara gostava ainda muito mais de luzes e cores do que quando ele era vivo.
Aquele palco estava ainda muito mais iluminado, do que uma árvore do natal.
E agora tinha vapor de gelo seco ou sei lá o que, saindo de toda
parte.
Um efeito muito interessante apareceu estampado ali no telão.
Era que toda dança que ele fazia no nosso palco, aparecia uns bailarinos lá atrás no telão.
Todos eles tavam fazendo a mesma coisa e dançando exatamente igual os movimentos, e em cada coreografia.
E por incrível que pareça, agora eu também tava ficando bom nisso...
Cara, eu já não errava mais nada! Parecia que eu dancei as músicas dele a vida toda!
E olhando pro telão eu estava me vendo lá. Fazendo exatamente os mesmos movimentos que eu fazia aqui fora no palco.
Com isso eu podia mi ver na TV , participando até dos vídeos e clipes que apareciam.
O Michael que estava nas cenas sempre parecia ser o que estava
ali junto comigo.
O Jackson atual, que morreu.
Uma hora daquelas ele foi andando, e entrou pra dentro do video clipe. E ficaram os dois Michael Jacksons lá dentro dançando.
Depois ele me chamou e pôs a mão pra fora da tela e me puxou com toda a força para entrar também no centro da imagem do telão.
Daí então corremos juntos e entramos pra dentro de um video clipe passeando por dentro das histórias. Dançando e cantando como os verdadeiros artistas.
E em todos os lugares que a gente passava existia agora dois Michael Jacksons.
Um falava com o outro e dançavam juntos e cantavam juntos.
Eram dois velhos amigos.
E o Michael meu amigo me apresentava pra galera. Onde todo mundo me tratava feito artista também.
Parecia que pra eles eu era gente. Era importante.
Nem parecia que eu vim duma realidade onde preto e favelado não
são nem gente.
E os outros nem nota a nossa presença a não ser pra nos acusar das coisas mais feias e hediondas...
É ladrão, é traficante ou bandido, sei lá.
Ali sim eu era gente ! Era artista. E ainda era eu mesmo sem mudar...
Um negrinho. Favelado e pobre.
Eu cantei e a minha voz tava ótima.
Aí dancei e mostrei passinho pro pessoal e batiam até palma pra mim.
Daqui a pouco perguntaram de samba !
Quando eu ensinei todo mundo ali aprendia de primeira.
Foi a maior farra . Logo perguntaram de capoeira.
Dando uma di profissional, falei que ia mostrar se tivesse os instrumentos.
O Michael só me olhava e perguntou o que eu precisava.
Lá onde a gente tava, aonde eu ia arrumar um berimbau ?
Pou, mas agora que o cara tinha virado mágico, não tinha mais é nada difícil pra ele né ?
Ele fez uma graça lá com as mãos e já apareceu um berimbau novinho em folha pra gente usar na demonstração.
Eu fui lá e já mostrei como é que tocava.
Mais uma outra coisa bem esquisita aconteceu...
Quando eu parei de tocar . O berimbau já sabia tocar a música sozinho ? Que parada é essa brou ?
Mas milagre a gente não explica né ?
A gente apenas aproveita que aconteceu...
fui lá e dei uma aulinha pros gringos de como se fazer uma roda de capoeira.
Sempre é fácil de entender a regra.
Principalmente quando a gente fala a mesma língua né.
Agora o bicho pegava porque o povo falava ingreis e eu fala brasileiro mesmo.
Malandrei, como dizia o chato do professor da minha escola. aff
Não era pa falar errado, pa falar sem dizer direito as palavras. E pa terminar não era pa falar nenhum tipo de gíria também ?
Mano, quem é que vévi assim pô ?
O Michael tava tendo uma canseira do caraca pra traduzir o que eu falava. Mas ainda tava conseguindo.
Também no fundo capoeira é bem facinho né. Qualquer um intende logo. Pega as moral .
Depois de a gente passear no clipe da Triller, bilie jean, beat it, you are not alone, black or wite.
Depois da gente falar e dançar com o Jackson criança rapaizinho e velho. Como se fossemos sempre amigos.
Tava tudo tão incrível.
O Michael me chamou e mi levou pra sair da tela e fomos parar outra vez no palco da minha escola. O salão do teatro.
A música ainda estava tocando e parecia que a gente tinha acabado era de sair.
Mas fazia já algum tempo sim. Porque nós chegamos aqui fora e vimo o Vitor Hugo “ Palerma ” e o “ Suíno sujeirinha ” .
E mais uma tribo inteira de fãs do Michael Jackson.
Professores, a diretora, alunos de mais idade, uma verdadeira multidão !
Olha lá ! Eu não falei ? - era o Suíno.
Mau, se eu aguentasse bater em alguém, naquela hora eu batia no suíno ! Que cara corró manu !
Que que ele tinha que trazer aquele pessoal todo ?
Chamei o Jackson e corremos para a saída dos fundos do palco e corremos para fora do salão.
E com aquela multidão de sem noção querendo de todo jeito pegar o Michael.
Sem querer eu vi o inferno que era você ser um um astro famoso.
Um dia de pesadelo na vida do Rei do Pop. aff
Nem depois de morto tem sossego !
Nóis saímos voando pra fora e a turma toda vindo atrás de achar e pegar a gente.
Demu a volta e chegamo no corredor perto do pátio.
E logo demos de cara com mais gente nos cercando e o Michael falou : __ Foi legal conhecer você, viu garoto...
Vi que ele tava muito triste de se separar de mim assim.
Eu também, fiquei pensando em meus doze anos de toda a minha vida.
Nunca ninguém gostava dimim. Nunca tive amigos de verdade.
E agora o melhor amigo que eu já tive foi um cara morto !
Que não foi meu amigo por mais do que algumas poucas horas.
Vi que ele ia ser pego por aquela multidão maluca e eu nem podia fazer era nada !
É ! Este mundo é realmente uma droga viu !
Mas o Michael se afastou de mim e foi correndo pra frente.
Indo pro pátio e se jogou pra cima e pegou uma pomba branca que ia passando ali no baixinho bem naquela hora !
Segurou a pomba com a mão direita catando ela no ar !
E já caiu em pé , virando na direção do corredor cheio de gente.
Abriu a jaquetinha e pegou um baralho de cartas do seu bolso.
Depois juntou as cartas e aquela pomba branca, colocando elas unidas nas duas mãos. E então arremessou as cartas e aquela sua pomba branca na direção do povo que vinha correndo atrás dele.
E eles tiveram que parar ali mesmo.
A pomba tinha se multiplicado em uma enorme confusão sem fim de asas e penas.
Devia ter no mínimo umas duzentas pombas brancas voando em todas as direções pra cima daquela turma de perseguidores.
E as cartas do baralho voavam junto, aumentando toda a confusão.
Saía cartas de todo lado e do meio das asas das pombas.
Nem deu pra entender por que alguma daquelas pessoas inventou
de falar : _ Tá chovendo dinheiro ! Ó dinheiro ! Êêêêê...
_ pra mim era só cartas de baralho mesmo !
Naquela balbúrdia de asas e cartas, ninguém perseguiu mais o Michael.
Ele correu até chegar num muro perto de uma bancada e do padrão da luz.
Naquela hora ele parecia o Jackie Chan. Colocou um pé na bancada e pôs o outro pé no padrão sobre a caixa de relógio.
Num instante já tava lá no topo do murão alto de quase três metros de altura.
Sentado lá no alto, virou e sorriu pra mim.
Com a expressão de uma criança, um muleque atentado que tá fazendo arte.
Daí ele bateu palma erguendo os braços bem por cima da cabeça.
Pareceu que veio do nada um passarinhão enorme e bem preto.
Passou rasante bem baixo, e o Jackson se segurou nas garras dele e foi embora assim. Como quem voa de asa delta.
Era uma visão totalmente sobrenatural.
Mas logo ele sumiu na distância ao longe, no rumo do pôr do sol, no oeste.
O pessoal que já tinha se livrado da revoada das pombas e da chuva de cartas, ainda conseguiu assistir a partida sensacional dele
naquela hora.
Todo mundo em silêncio sepulcral. Parados e bestas.
Talvez ainda tentando compreender o que era que eles tinham visto acontecer.
Eu fui saindo de fininho e passei por eles mas ninguém me notou. Voltei a ser o negrinho invisível.
Que ninguém olha nem enxerga a não ser pra apertar firme as bolsas e pra apertar as carteiras com medo da gente ser ladrão.
Tudo voltava ao normal na minha escola. Até lá em casa.
E também na rotina da minha vida de todo dia uma surra não é...
Apanhar me dá uma vergonha. Uma raiva !
Eu nunca que faço nada...
Mi dá uma raiva louca ter que andar por aí todo vestido e coberto pra esconder tantos vergão.
Também a última coisa que eu ia querer é que todo mundo visse que ele mi bate.
A gora tou sempre olhando pela vitrine daquela lanchonete onde o Jackson tava.
Epa ! Mas morto nem come né.
Acho que a essa altura ele nem lembraria mais dimim.
Aposto que mesmo agora que ele tá morto, o cara deve ter muito mais coisa mais importante pra fazer...
Êpa ! Mas pera aí ! Aconteceu alguma coisa...
Tem uns cara mi chamando nasala da diretora, vou lá ver.
Mas eu já adianto, não foi eu que fiz nada em...
Tava era quieto aqui !
Nossa ! Levei uma hora pra voltar …
Tem uns cara gringo lá.
Um deles era advogado.
Viero mi levar porque eu ganhei uma bolsa de estudos completa com tudo pago, no conservatório de música.
De uma escola americana de nome complicado.
Caraca meu irmão !
Vou embora daqui e nunca mais vou apanhar !
É só eu pegar as minhas tralhas e mi mandar.
Num acredito ! Só pode ter sido o Michael Jackson !
Quem que ia querer pagar escola, logo pra mim ?
Estudar e morar nos Estados Unidos ?
Parece até que é um sonho !
Não sei como foi que eles fizero pa convencer aquele panaca a deixar eu ir !
Ah sei lá. Vai ver só falaro que ele ia ficar livre dimim né...