terça-feira, 1 de setembro de 2015

CAUSOS : HISTÓRIAS DA TIA FLORINDA




BARNABÉ E O FÍGADO CAPITULO 01
As tradições e a superstição sempre fizeram parte da vida das pessoas. Algumas coisas tolas assim como nunca passar por baixo de escadas porque dá azar .
Ou comer um punhado de lentilhas ou três caroços de romãs pra ajudar a dar sorte no primeiro dia do ano novo e depois guardar na carteira .
Não deixar o sapato nem chinelo virado, que também dá azar...
A verdade é que, superstição é igual opinião : __ Cada um tem a sua.
Mas sempre vai existir também a figura do incrédulo !
Aquele cético que não acredita mesmo em nada sem um bom motivo.
E duvida é de tudo que é ditado popular, crendice, ou tradição que existe .
Lembrando o famoso SÃO TOMÉ . O apóstolo de JESUS , que tendo diante de si o mestre ressuscitado. Ainda duvidava do que os seus próprios olhos viam...
Num tempo em que quase todo o BRASIL, e principalmente o ESTADO DE MATO GROSSO. Eram mesmo mais mato do que cidade.
O BARNABÉ de SOUZA, é que era um desses descrentes.
Era alegre e de bem com a vida, mas... Um verdadeiro cético !
Diziam que manga com leite faz mal . E o BARNABÉ quis experimentar só pra ver o que aconteceria. E nada aconteceu felizmente !
__ " Em porco, o que faz mal mesmo é a faca" _ disseram os seus amigos zombando dele.
Falavam que não presta assobiar de noite . Mas o BARNABÉ vivia fazendo isso. Tanto na noite como durante o dia. Juntava as duas mãos e soprava aquilo tirando um som estridente e oco o tempo todo.

Até que pegou uma grande prática nessa arte. Parecia um flautista.
Apesar que tocava melhor mesmo era a sua viola...
Alguns lugares tinham a fama de ser mal assombrados . E isso também o BARNABÉ nunca levou a sério.
Achava que tudo não passava é de exageros do povo. Tudo Besteiras !
De Gente que vivia com medo de coisas de outro mundo atoua .
Todo mundo sabe que não presta dormir de chapéu !
BARNABÉ também sabia . Mas nunca se importou com isso !
Às vezes não tirava nem as esporas antes de ir dormir.
Que dirá as botas e o chapéu .
Num certo dia ele vinha a cavalo pra sua casa . Passou pelo sítio do seu amigo . Compadre Anésio .
E Dona Marília e Seu Anésio estavam ali sentados na varanda, e o chamaram , quando viram passar na estrada .
__Vamos chegar compadre BARNABÈ ! Como que vai o sinhor ?
Tudo em paz ?
__ Ô Seu Anésio. Boa tarde Dona Marília. Como é que vão vocês ?
_ Tudo bem compadre Barnabé. E o sinhor, ta vindo de onde essa hora ? __ Tive que ir visitar minha tia Joana, que está meio adoentada...
_ Ai coitada ! E como é que ela está ? È alguma coisa grave ?
__ Acho que não. Ela já ta mesmo velhinha e qualquer coisinha ela já fica achando que já ta pra morrer. Mas não é nada sério não.
_ O sinhor já almoçou compadre ? Não quer tomar um cafezinho ? Ou então um bom dum tereré ?
__ Não, não . Saí de lá sem comer nada. Se tiver aí um cafezinho...
_ O sinhor não quer almoçar então ? Já é mais de uma hora e a fazenda é longe... Tem arroz, feijão. Milho verde bem cozido, quiabo...

__ Brigado compadre Anésio. Aceito sim . Já to anté tinindo da fome a essa hora ! Mas o sinhor num tem aí uma carne com mandioca ?
_ Olha compadre, carne não tem. Tem ensopado de peixe. O senhor sabe que na semana santa a gente aqui não come carne...
__ Que bobagem compadre ! Eu não dispenso uma carninha num almoço nem na sexta feira santa ! O vigário que mi adisculpe !
_ Bom, ontem os peão mataram dois veado mateiro e nois não comemos tudo. Deve ter aí um pouco da carne, eles iam salgar pra fazer o charque e um pedaço de fígado...
_ Se o sinhor quiser eu posso preparar ...
__ Claro ! Se não for incomodar a sinhora Dona Marília ...
_ Que nada compadre Barnabé . É Com muito gosto ...
__ Já faz um tempão que eu não como carne de caça.
Dona Ramona e Dona Marília prepararam um banquete pra servir ao compadre Barnabé .
Mas a cozinheira ficou escandalizada com o fato de o Barnabé querer comer carne logo na semana santa.
__ Patroa, será que o seu Barnabé não sabe que na semana santa a gente não pode comer carne ? A sinhora devia falar pra ele não fazer uma coisa dessa . È até um sacrilégio . _ e danou a fazer o sinal da cruz várias e várias vezes .
__ O Barnabé é mais teimoso do que uma tropa de mulas Ramona . E nem adianta falar nada .
Até parece que você não conhece aquele galhofeiro !
_ Qualquer dia desses Deus castiga o seu Barnabé por ele ser tão relaxado desse jeito ! Aí ele vai ver o que é bom ...

__ Acho que Deus tem mais o que fazer do que se preocupar com quem não acredita em nada como o Barnabé , Ramona .
_ Quando acontecer alguma coisa, ele que não diga que ninguém avisou .
E o Barnabé si fartou de comer .
Porque estava com tanta fome por ter passado demais da hora de almoçar, que sentia ter era um buraco no lugar do estômago .
E comeu toda aquela carne ... Ou melhor, o fígado .
E sem um pingo de peso na consciência :
__ Mas quê que semana santa que nada ! _ pensava ele zombeteiro.
__ De estômago cheio a vida fica muito mais feliz ...
Barnabé ficou um pouco mais com seu Anésio e a Dona Marília , só pra não fazer à moda do que faz o cachorro vira-lata .
Que acaba de comer e sai correndo ...
Mas ele já tinha mesmo que ir pra casa .
Todo o mundo sabe que um tempo depois do almoço vai ti dando uma moleza. Meio que uma preguiça inrresistível .
Por isso é que se tinha o costume de dormir um pouco após o almoço. Sestiar , era como se chamava esse cochilo.
Diziam ' eu vou sestiar' , ' ele foi sestiar ' , " ela foi sestiar um pouco " ou " agora nós vamos sestiar " ...
E a sésta , ou siesta como alguns dizem. Era um dos poucos costumes que o Barnabé ainda respeitava , embora não fosse lá muito freqüente .
Nesse dia ele estava mesmo cansado .
E vinha pensando se não era mesmo bem melhor , ter ficado um pouco mais lá na casa do Compadre Anésio .
Esticado em alguma rede bem confortável.

Agora com aquele sol pelando nas costas. E já vinha se chacoalhando nos lombo do cavalo o dia inteiro ...
Viu uma figueira enorme na beira da estrada , perto de um mato alto . Havia pegadas recentes de vaca . Tinha passado uma boiada há pouco tempo por ali . Mas tudo estava tranqüilo e silencioso à sua volta ...
Acontece uma coisa muito curiosa com as figueiras . Muita gente diz , e acredita firmemente que são dadas a atrair assombração .
E ser um abrigo dos fantasmas e almas penadas de todos os tipos .
Claro ! Aquela figueira centenária dicerto também já tinha HISTÒRIAS pra contar ...
Mas é claro que o Barnabé não ia se importar nem mesmo se tivesse se lembrado disso ...
Pra não parar embaixo da grande figueira ...
Descrente como ele era de tudo que é superstição !
Chegou , forrou um cobertor , amarrou o cavalo e deitou numa raiz grossa . Dormiu em seguida tranqüilo e sossegado .
Mas depois de um tempo , acabou acordando de chofre , todo assustado .
O cavalo estava inquieto , muito inquieto , e relinchou .
Meio querendo correr . Com medo !
__ É onça ! _ ele pensou . Homem do campo que era . Caçador.
Acostumado a todo tipo de surpresas e perigos . Pegou a sua garrucha e ficou alerta . Olhando ao redor . Vigiando .
Nisso o cavalo se soltou e saiu disparado a galope.
Barnabé olhava à sua volta tentando ver a pintada que ele acreditava estar rondando por alí... Mas não via nada .

Logo ouviu ao longe uma voz horrível que berrava meio que num lastimoso gemido :
__ Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO !
Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai , MEU FíGADO !
Barnabé sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo todo .
Era um homem valente . Mas agora tremia de medo como se já fosse morrer . Tava quase se borrando todo ...
Porque aquela voz estava vindo em sua direção gritando :
__ Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO !
Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO ! _ gemeu ela de novo .
E Barnabé tentando se dominar , pensou em sair correndo dali imediatamente. Mas viu que as pernas não lhe obedeciam .
Só tremiam o tempo todo . Mas nada de querer sair do lugar . Enquanto a voz horripilante vinha se aproximando :
__ Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FÍGADO !
Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO ! !
_ E de repente sai uma voz vinda da sua própria barriga , e responde :
__ FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
E agora , quando a voz falava Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO !
Dentro da barriga , a outra voz toda alvoroçada dizia :
__ FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
Parecia que milhares de sapos cururus saltavam alí dentro .
E coaxavam em resposta à aproximação da voz maligna saída do capinzal alto . E cada hora a voz vinha de uma direção diferente ...
Pareceu vir detrás dele . E do alto da árvore . Do meio do mato .
E só dizia a toda hora :
__ Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO ! !

E a barriga : __ FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
Finalmente o bicho que vinha , saiu do meio do mato .
Era uma assombração . Ou sei lá o que ! Um monstro tão feio que mal se podia olhar pra ele .
Era marrom escuro , e tinha um focinho de lobo guará . Com enormes e afiados dentes . Que ficavam quase todos à mostra .
Mesmo que a boca estivesse fechada .
E os olhos esbugalhados eram enormes .
Andava sobre duas pernas peludas que lembravam ao tamanduá bandeira.
As patas eram grandes e arredondadas com garras longas e curvadas .
No alto da cabeça grande e redonda de macaco , Havia uma galhada de cervo e enormes orelhas que eram decaídas , parecidas as de um boi .
E o Barnabé sentia dores terríveis no estômago toda vez que saía de seu bucho aquele estranho coaxado :
__ FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
_ em resposta aos gemidos do monstro horroroso .
Vendo que o bicho vinha em sua direção ele até quis correr .
Mas a dor que ele sentia era tão forte que ele desmaiou ainda antes de poder sair da sombra da grande figueira ...
O Barnabé acordou ainda em tempo de ver quando aquele monstro ia indo embora.
E ia balangando um enorme rabo listrado de marrom e branco .
Que fazia lembrar os quati mundéu ...
A dor da barriga tinha parado . Mas sua camisa agora estava cortada na barriga , pela metade . E uma cicatriz enorme fazia coçar a pele como se ele tivesse se esfregado no capim . Ou jogado pó de mico ali por cima.
Ele se levantou e viu que agora já podia andar .

Só que se coçava que nem um louco.
Foi em busca do cavalo e saiu seguindo as suas pegadas . Mas só o encontrou muito longe .
Dois quilômetros de distância mais adiante, pastando .
E ele se assustou e quis fugir . Mas Barnabé o pegou pela corda e o dominou com facilidade .
Quando chegou em casa ele sentiu foi é vergonha de contar o que lhe tinha acontecido .
E ninguém ia acreditar nele mesmo ... Ou iria ?
Não que alguma vez em sua vida , ele tivesse andado com mintiras .

Mas se nem ele acreditava direito em tudo aquilo por que tinha passado .

CAUSOS : HISTÓRIAS DA TIA FLORINDA.

O LAGARTO MUNDERÊ 

A vida das pessoas antigamente se seguia num ritmo quase igual ao dos dias de hoje .
Uma moça casada já fazia algum tempo, cuidava muito diligentemente de seus afazeres na lida doméstica da vida no campo . Cumprindo a sua rotina .
Ainda bem antes de raiar o dia , como sempre se fazia naquela casa , ela já cuidava de acender um velho fogão à lenha. Para assar um delicioso bolo e uns pãezinhos para o seu desjejum, no café da manhã .
A jovem senhora , que na falta de um nome melhor podemos
chamá-la de MARTA.
Era muito trabalhadeira e esforçada. Totalmente dedicada ao lar e à sua família.
Que por enquanto consistia apenas de um filhinho e o marido.
Era ele um jovem trabalhador , e corajoso como ele só . E se chamava PEDRO DE OLIVEIRA. Viviam em perfeita harmonia naquela casa, que dava até gosto de se ver. Seu filhinho de quase um ano chamava-se FABIO. E sua idade era a da época em que as crianças são mais gorduchinhas e interessantes. E quase que ainda não dão muito trabalho aos pais.
Enquanto MARTA cuidava do fogão, conversava com o seu filho para distrair-se.
Ficava ele ainda a maior parte do tempo, dentro de seu bercinho de madeira, brincando com os seus brinquedinhos feitos pelo pai.
O berço tinha sido solidamente construído com boa madeira de cedro por PEDRO. Que era um verdadeiro artista nessas coisas.
Os brinquedos eram, um pião. Ainda que sem o prego na ponta, para que o menino não se machucasse com ele. Um carrinho com parelha de bois.
E uma grande variedade de bichinhos de madeira.
Tinha vaquinhas, porquinhos, cavalos, cachorrinhos, peixinhos gatos e galinhas.
Pedro trabalhava como lenhador, de carpinteiro e peão em comitivas, Para ganhar algum dinheiro. Claro que não era rico,
mas ganhava o suficiente para manter a sua família bem sortida
em suas necessidades mais básicas.
Morando no ranchinho onde viviam. A mais de dois quilômetros de seus vizinhos mais próximos, em qualquer direção que se quisesse seguir...
Marta sempre empurrava o bercinho pra todos os lugares onde ela ia, mesmo que fosse ao curral, para ordenhar as cinco vaquinhas que eles tinham. Ela carregava consigo o garoto.
Essa facilidade ela pedira ao marido, ao pensar na conveniência de ficar de olho no bebê o tempo todo, ainda que estivesse fazendo outras coisas ao mesmo tempo.
Para o marido não fora difícil por algumas rodinhas muito bem feitas, no bercinho do filho. O que lhe dava total liberdade de movimentos...
Difícil mesmo para ele, era passar mais tempo em casa com a sua família.
Já que os trabalhos que ele arranjava pra fazer, quase sempre o obrigavam a passar o dia. E frequentemente até mesmo as noites fora de casa.
Para ele e a família isso era a pior parte na vida que levavam.
Como já foi dito antes, quase tudo antigamente levava muito tempo...
E caso PEDRO pegasse uma fazenda pra desmatar por exemplo. Tinha que trabalhar o dia inteiro cortando as árvores ou arrancando os tocos.
Como é que ele faria pra andar trinta, quarenta ou setenta quilômetros. Para vir comer ou dormir em casa logo ao cair da
noite. E no dia seguinte, já muito cedo.
Estar novamente em forma, e pronto pra trabalhar?
A mesma coisa acontecia quando era preciso viajar pastoreando uma boiada durante vários dias, junto com alguns outros vaqueiros. Até entregar a toda a boiada no seu novo destino. Que podia ser um abatedouro, ou alguma fazenda que podia ficar em outro estado ou até em outro país...
Se o trabalho fosse a construção de uma casa, um galpão ou outra coisa. E o lugar ficasse muito longe de onde Pedro morava.
Da mesma forma ele se veria forçado a passar a noite fora de casa também...
Por isso mesmo era que MARTA já estava até habituada a passar várias noites sozinha em casa, apenas com o bebê como companhia.
Nessa noite em particular, MARTA havia dormido sozinha de novo. Só que o serviço que tinha segurado o seu marido fora de casa, não era muito grande e provavelmente até ao meio dia, ele já estaria regressando.
Apenas a instalação de um cata vento não iria demorar tanto assim. _ pensou ela.
Já com o fogo aceso, MARTA saíra até lá fora para trazer um pouco mais de lenha, e voltara a fazer a massa de seus pães.
E quando ouviu do lado de fora, um barulhão bem estridente.
Pensou imediatamente que o seu velho balde de latão havia caído alí por perto.
Ela largou a massa de pão que tinha nas mãos, e já ia caminhar porta a fora, saindo da cozinha para ver o que havia causado
todo aquele estardalhaço.
Mas um outro estranho som lhe chamou a atenção.
Parecia que do lado de fora alguma coisa se raspava no chão. Se aproximando da casa.
Ela mal tinha dado três passos e parou, completamente estarrecida pela visão horrenda da criatura estranha que, ia entrando porta a dentro em sua cozinha como se estivesse em sua própria casa! Era um lagarto de quase dois metros de altura, a caminhar sobra as duas pernas trazeiras muito grossas e meio curtas.
Com o pescoço largo todo esticado para a frente.
Vinha farejando o ar com um focinho comprido, enquanto tirava pra fora da boca, meio metro de uma língua bifurcada na ponta e vermelha como sangue.
Ao avistar a mulher dentro da cozinha, mostrou quase todos os dentes enormes da bocarra fedorenta. Cantarolando para ela de uma forma totalmente inesperada, um estranhíssimo cumprimento com aquela sua voz tenebrosa:
__ BOA NOITE, BOA NOITE! AI MUNDERÊ, AI MUNDERÊ !
Saindo do seu espanto, e dominando-se a muito custo. MARTA resolveu que era melhor entrar no jogo do monstrengo. Pelo menos até saber exatamente o que deveria fazer. E cantarolou de volta pra ele com a voz insegura :
__ Boa noite pra você também . Ai munderê, Ai munderê
Como se não esperasse mesmo outra coisa da mulher, ele nem ligou a mínima para a resposta dada ao seu cumprimento, e acabou de entrar cozinha a dentro. E depois de dar mais duas
fungadas vigorosas no ar da sua cozinha.
O estranho lagartão voltou a falar novamente.
Cantarolando com a sua voz horrorosa para ela :
__ SINTO O CHEIRO DE CRIANÇA ! AI MUNDERÊ , AI MUNDERÊ!
Sem saber o que pensar. E tendo a absoluta certeza de que o lagarto poderia muito bem encontrar sem a sua ajuda, o bebezinho que ainda dormia dentro de seu berço, na maior tranqüilidade. Ela cantou de volta pra ele :
__ É o meu filho alí no berço. Ai munderê, Ai munderê.
Olhando para o menino dentro do berço, o lagarto cantou de novo para ela com a voz ainda mais horrível, parecendo mais rascante e mais chiada : __ E DE QUEM É ESSA CRIANÇA ? AI MUNDERÊ, AI MUNDERÊ.
Ao que MARTA já muito aflita, respondeu prontamente, cantando também :
__ É do meu marido PEDRO ! Ai Munderê , Ai Munderê!
__ E ONDE É QUE ELE ESTÁ ? AI MUNDERÊ, AI MUNDERÊ ! _cantou desconfiado o lagartão olhando em volta... Via-se logo que ele tinha péssimas intenções. E o que ele fez em seguida deixou isso muito claro.
Andou com passinhos curtos, um pouco mais na direção do berço onde focava o menino. Fabio dormia como um ajinho.
__ Ele está fora trabalhando. Ai Munderê, Ai Munderê. _ disse MARTA, enquanto disfarçadamente passava a mão no cabo de uma pesada panela de ferro. Pronta para tentar defender o filho das garras daquele lagartão.
Como se só estivesse esperando aquela resposta de MARTA,
para mostrar o que realmente tinha vindo fazer naquela casa. O lagarto foi caminhando com passos firmes na direção do berço e do menino. Enquanto cantava, com a cara mais cínica deste mundo, para a mulher que o olhava : __ ENTÃO JÁ VOU COMER ELE ! AI MUNDERÊ, AI MUNDERÊ ! _ revelando toda a maldade de suas reais intenções!
Mas a sorte parecia estar do lado de marta nesse dia, pelo jeito.
Pois o monstro mal-e-mal tocou no bercinho para tentar pegar o menino lá de dentro. O galo cantou lá fora, no terreiro. E o bicho parou no ato!
Deu um passo para trás, olhou cobiçosamente o bebê. E depois virou-se para a mãe. Ainda assustada , com a grande panela nas mãos. E cantou com uma certa decepção vibrando claramente em sua voz horripilante de monstro : __ AMANHÃ VENHO MAIS CEDO! AI MUNDERÊ AI MUNDERÊ !

_ e depois de dizer isso, o lagartão foi saindo na direção da porta aberta. Com o enorme e grosseiro rabo, coberto de escamas brilhantes. A balançar de um lado para outro...







quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

BRIGARAM NA ESCOLA !

Minha escola naquele tempo,sempre foi um zoológico e um chiqueiro!
Até hoje ainda chamam com um apelido pejorativo de um jeito pra esculachar a escola, tipo Teotônio Favela.
Os piores elementos que havia por aqui estudaram nesse colégio. Ou então vinham apenas jogar bola e usar a quadra nas folgas de aulas dos alunos depois de pularem o muro que era baixo.
Nessa época de início nem guarda ainda num tinha por ali.
Apesar do que eu disse, que todo mundo deve resolver sozinho os seus piores problemas. Nem sempre eu deixei a natureza seguir o seu próprio curso.
Eu falo sempre que quem trabalha de professor aqui no Brasil, está usando “ O CHICOTE E A CADEIRINHA” ...
Sim porque tem muito aluno que o pai e a mãe mandam para a escola, que deveriam estar morando é em um zoológico!
Era preciso ficar em uma jaula !
O educador tem que ser um pouco domador de feras, e tem um monte de aluno palhaço que pensa que está num circoooo.
E também muito aluno transforma a sua própria escola em um chiqueiro !
Tinha um moleque que eu conhecia já fazia muitos anos e de quem eu já não gostava nem um pouco do jeito dele.
Era um desses animais que estou falando, sempre foi uma praga e o pior de tudo é que ele era filho de evangélico.
Mas era bem pior do que muito filho de qualquer ateu.
O padrasto dele era um crente chato e duvido muito que ele fosse em casa a mesma praga que ele era na escola.
Tinha um garoto até legal na minha sala, mas que a gente conversava muito pouco no começo do ano.
Esse outro menino era de uma outra sala, muito pilantra e delinquente ele era.
Eu já tive que bater em muita gente dentro da escola.
Então era já praticamente um desses que tinha que ir parar em uma jaula também.
Mas esse é um caso do que poderia ser chamado hoje em dia de buling na escola. Mas naquela época nada não tinha esse nome.
Eu via que o Zézinho tava sempre batendo no outro, dava chutes, dava socos e empurrões nesse moleque. E tomava grana dele.
Eu até falei para ele : _ Mete a mão na cara desse guri Anselmo.
Você vai deixar ele ficar te batendo todo dia e tomando dinheiro do seu lanche ?
Mas vi que não ia mesmo adiantar falar é nada!
Muitas vezes as pessoas não dão para uma situação que está acontecendo contra elas, o peso que a situação realmente tem.
Eu já tinha dado um murro muito bem dado no meio das costas deste moleque por uma confusão que ele causou comigo em uma data muito anterior.
O pior é que isso foi logo na frente da inspetora da escola eu talvez ia até ser expulso.
Se não fosse eu ter alguma moral com a professora da época.
Sempre eu era quieto, e as vezes eu até estudava sabe.
Ela até me mandou sair pra comprar umas rosas pra ela uma vez no dia do professor. Era longe mas eu fui assim mesmo e trouxe as rosas que ela queria e ela deu uma pra cada colega dela.
Eu então já tava enjoado de ver esse moleque tomar dinheiro do cara da minha sala todos os dias.
Esperei eles dois estarem perto de mim e fiz ele devolver na marra o dinheiro que ele tinha acabado de roubar.
E no meio de todos os outros alunos da minha sala e da dele nos olhando, falei que eu iria quebrar ele todo se visse ele roubando dinheiro dos moleques da minha sala outra vez.
Tipo dei a entender que era porque a gente era de salas diferentes que eu tava me metendo.
Ele parou com isso, porque sabia que eu nunca ameaço.
Se eu disser que eu faço, depois de falar eu faço mesmo.
E ainda mandei o outro menino me contar se ele fizesse qualquer outra coisa. Ele ia então se ver comigo...
O Zézinho acabou tendo que se regenerar praticamente na marra.
Nunca mais vi ele tentando tirar dinheiro de mais ninguém na escola.
Parece que as vezes tudo o que um predador criminoso espera é achar uma presa bem fácil para ele vitimar mesmo.
Eu podia ganhar mais tendo ficado na minha é claro.
Sou totalmente indiferente para a desgraça dos outros quando quero. A pessoa se rasga na minha frente e não me comove.
Mas acho que até para a pouca-vergonha existem limites.
Eu até me meti nessa coisa do buling, mas nunca tive vocação para consertador do mundo. Apenas vi a coisa errada e reagi.
Eu acho que até é uma doença o que eu chamo de “ síndrome do reformador do mundo ”.
Basta a pessoa ver alguém falando errado ou agindo errado ou sendo ela mesma de um jeito diferente, que o 'Reformador' já chega até a ser chato, querendo regenerar aquela alma condenada.
Se você vê alguém que nem pede a sua opinião, que nem quer nada de você, e que só está seguindo num caminho, vida ou pensamento errado, o que você faz ?
Eu não faço nada. Não corrijo quem fala errado. Não tento mudar o comportamento de quem age errado.
Não desperdiço o meu tempo cuidando de nada que não seja da minha conta.
É um tipo de vício que a gente tem que é quase incontrolável querer moldar as pessoas pelo que a gente pensa.
Mas se todos fossem como a gente quer e coisa e tal, todo mundo seria muito infeliz.
Se eu não puder ser eu mesmo não vale a pena ser coisa alguma. Nem ser o que outros acham certo. Se anule e agrade o mundo ?
Se dane o mundo. Eu já tenho minha vida pra cuidar …
Quando a pessoa quer andar errado o pai não segura. A mãe não segura. A namorada não segura. A família não segura. A escola num segura. Nem a cadeia também num segura.
Se eu sei por antecipação que não iria adiantar eu falar é nada !
Prefiro calar a minha boca e nem dizer coisa alguma...
Não tenho essa síndrome de reformar o mundo todo.

Cada pessoa tem a obrigação de saber se comportar, e fazer o que é certo sem que tenha alguém a lhe arrastar pelo cabelo para o bom caminho.