A
vida das pessoas antigamente se seguia num ritmo quase igual ao dos
dias de hoje .
Uma
moça casada já fazia algum tempo, cuidava muito diligentemente de
seus afazeres na lida doméstica da vida no campo . Cumprindo a sua
rotina .
Ainda
bem antes de raiar o dia , como sempre se fazia naquela casa , ela
já cuidava de acender um velho fogão à lenha. Para assar um
delicioso bolo e uns pãezinhos para o seu desjejum, no café da
manhã .
A
jovem senhora , que na falta de um nome melhor podemos
chamá-la
de MARTA.
Era
muito trabalhadeira e esforçada. Totalmente dedicada ao lar e à sua
família.
Que
por enquanto consistia apenas de um filhinho e o marido.
Era
ele um jovem trabalhador , e corajoso como ele só . E se chamava
PEDRO DE OLIVEIRA. Viviam em perfeita harmonia naquela casa, que dava
até gosto de se ver. Seu filhinho de quase um ano chamava-se FABIO.
E sua idade era a da época em que as crianças são mais
gorduchinhas e interessantes. E quase que ainda não dão muito
trabalho aos pais.
Enquanto
MARTA cuidava do fogão, conversava com o seu filho para distrair-se.
Ficava
ele ainda a maior parte do tempo, dentro de seu bercinho de madeira,
brincando com os seus brinquedinhos feitos pelo pai.
O
berço tinha sido solidamente construído com boa madeira de cedro
por PEDRO. Que era um verdadeiro artista nessas coisas.
Os
brinquedos eram, um pião. Ainda que sem o prego na ponta, para que o
menino não se machucasse com ele. Um carrinho com parelha de bois.
E
uma grande variedade de bichinhos de madeira.
Tinha
vaquinhas, porquinhos, cavalos, cachorrinhos, peixinhos gatos e
galinhas.
Pedro
trabalhava como lenhador, de carpinteiro e peão em comitivas, Para
ganhar algum dinheiro. Claro que não era rico,
mas
ganhava o suficiente para manter a sua família bem sortida
em
suas necessidades mais básicas.
Morando
no ranchinho onde viviam. A mais de dois quilômetros de seus
vizinhos mais próximos, em qualquer direção que se quisesse
seguir...
Marta
sempre empurrava o bercinho pra todos os lugares onde ela ia, mesmo
que fosse ao curral, para ordenhar as cinco vaquinhas que eles
tinham. Ela carregava consigo o garoto.
Essa
facilidade ela pedira ao marido, ao pensar na conveniência de ficar
de olho no bebê o tempo todo, ainda que estivesse fazendo outras
coisas ao mesmo tempo.
Para
o marido não fora difícil por algumas rodinhas muito bem feitas, no
bercinho do filho. O que lhe dava total liberdade de movimentos...
Difícil
mesmo para ele, era passar mais tempo em casa com a sua família.
Já
que os trabalhos que ele arranjava pra fazer, quase sempre o
obrigavam a passar o dia. E frequentemente até mesmo as noites fora
de casa.
Para
ele e a família isso era a pior parte na vida que levavam.
Como
já foi dito antes, quase tudo antigamente levava muito tempo...
E
caso PEDRO pegasse uma fazenda pra desmatar por exemplo. Tinha que
trabalhar o dia inteiro cortando as árvores ou arrancando os tocos.
Como
é que ele faria pra andar trinta, quarenta ou setenta quilômetros.
Para vir comer ou dormir em casa logo ao cair da
noite.
E no dia seguinte, já muito cedo.
Estar
novamente em forma, e pronto pra trabalhar?
A
mesma coisa acontecia quando era preciso viajar pastoreando uma
boiada durante vários dias, junto com alguns outros vaqueiros. Até
entregar a toda a boiada no seu novo destino. Que podia ser um
abatedouro, ou alguma fazenda que podia ficar em outro estado ou até
em outro país...
Se
o trabalho fosse a construção de uma casa, um galpão ou outra
coisa. E o lugar ficasse muito longe de onde Pedro morava.
Da
mesma forma ele se veria forçado a passar a noite fora de casa
também...
Por
isso mesmo era que MARTA já estava até habituada a passar várias
noites sozinha em casa, apenas com o bebê como companhia.
Nessa
noite em particular, MARTA havia dormido sozinha de novo. Só que o
serviço que tinha segurado o seu marido fora de casa, não era muito
grande e provavelmente até ao meio dia, ele já estaria regressando.
Apenas
a instalação de um cata vento não iria demorar tanto assim. _
pensou ela.
Já
com o fogo aceso, MARTA saíra até lá fora para trazer um pouco
mais de lenha, e voltara a fazer a massa de seus pães.
E
quando ouviu do lado de fora, um barulhão bem estridente.
Pensou
imediatamente que o seu velho balde de latão havia caído alí por
perto.
Ela
largou a massa de pão que tinha nas mãos, e já ia caminhar porta a
fora, saindo da cozinha para ver o que havia causado
todo
aquele estardalhaço.
Mas
um outro estranho som lhe chamou a atenção.
Parecia
que do lado de fora alguma coisa se raspava no chão. Se aproximando
da casa.
Ela
mal tinha dado três passos e parou, completamente estarrecida pela
visão horrenda da criatura estranha que, ia entrando porta a dentro
em sua cozinha como se estivesse em sua própria casa! Era um lagarto
de quase dois metros de altura, a caminhar sobra as duas pernas
trazeiras muito grossas e meio curtas.
Com
o pescoço largo todo esticado para a frente.
Vinha
farejando o ar com um focinho comprido, enquanto tirava pra fora da
boca, meio metro de uma língua bifurcada na ponta e vermelha como
sangue.
Ao
avistar a mulher dentro da cozinha, mostrou quase todos os dentes
enormes da bocarra fedorenta. Cantarolando para ela de uma forma
totalmente inesperada, um estranhíssimo cumprimento com aquela sua
voz tenebrosa:
__
BOA NOITE, BOA NOITE! AI MUNDERÊ, AI MUNDERÊ !
Saindo
do seu espanto, e dominando-se a muito custo. MARTA resolveu que era
melhor entrar no jogo do monstrengo. Pelo menos até saber exatamente
o que deveria fazer. E cantarolou de volta pra ele com a voz insegura
:
__
Boa noite pra você também . Ai munderê, Ai munderê
Como
se não esperasse mesmo outra coisa da mulher, ele nem ligou a mínima
para a resposta dada ao seu cumprimento, e acabou de entrar cozinha a
dentro. E depois de dar mais duas
fungadas
vigorosas no ar da sua cozinha.
O
estranho lagartão voltou a falar novamente.
Cantarolando
com a sua voz horrorosa para ela :
__
SINTO O CHEIRO DE CRIANÇA ! AI MUNDERÊ , AI MUNDERÊ!
Sem
saber o que pensar. E tendo a absoluta certeza de que o lagarto
poderia muito bem encontrar sem a sua ajuda, o bebezinho que ainda
dormia dentro de seu berço, na maior tranqüilidade. Ela cantou de
volta pra ele :
__
É o meu filho alí no berço. Ai munderê, Ai munderê.
Olhando
para o menino dentro do berço, o lagarto cantou de novo para ela com
a voz ainda mais horrível, parecendo mais rascante e mais chiada :
__ E DE QUEM É ESSA CRIANÇA ? AI MUNDERÊ, AI MUNDERÊ.
Ao
que MARTA já muito aflita, respondeu prontamente, cantando também :
__
É do meu marido PEDRO ! Ai Munderê , Ai Munderê!
__
E ONDE É QUE ELE ESTÁ ? AI MUNDERÊ, AI MUNDERÊ ! _cantou
desconfiado o lagartão olhando em volta... Via-se logo que ele
tinha péssimas intenções. E o que ele fez em seguida deixou isso
muito claro.
Andou
com passinhos curtos, um pouco mais na direção do berço onde
focava o menino. Fabio dormia como um ajinho.
__
Ele está fora trabalhando. Ai Munderê, Ai Munderê. _ disse MARTA,
enquanto disfarçadamente passava a mão no cabo de uma pesada panela
de ferro. Pronta para tentar defender o filho das garras daquele
lagartão.
Como
se só estivesse esperando aquela resposta de MARTA,
para
mostrar o que realmente tinha vindo fazer naquela casa. O lagarto foi
caminhando com passos firmes na direção do berço e do menino.
Enquanto cantava, com a cara mais cínica deste mundo, para a mulher
que o olhava : __ ENTÃO JÁ VOU COMER ELE ! AI MUNDERÊ, AI
MUNDERÊ ! _ revelando toda a maldade de suas reais intenções!
Mas
a sorte parecia estar do lado de marta nesse dia, pelo jeito.
Pois
o monstro mal-e-mal tocou no bercinho para tentar pegar o menino lá
de dentro. O galo cantou lá fora, no terreiro. E o bicho parou no
ato!
Deu
um passo para trás, olhou cobiçosamente o bebê. E depois virou-se
para a mãe. Ainda assustada , com a grande panela nas mãos. E
cantou com uma certa decepção vibrando claramente em sua voz
horripilante de monstro : __ AMANHÃ VENHO MAIS CEDO! AI MUNDERÊ
AI MUNDERÊ !
_
e depois de dizer isso, o lagartão foi saindo na direção da porta
aberta. Com o enorme e grosseiro rabo, coberto de escamas
brilhantes. A balançar de um lado para outro...
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