BARNABÉ EO FÍGADO CAPITULO 01
As tradições e a superstição sempre fizeram parte da vida das pessoas. Algumas coisas tolas assim como nunca passar por baixo de escadas porque dá azar .
Ou
comer um punhado de lentilhas ou três caroços de romãs pra ajudar
a dar sorte no primeiro dia do ano novo e depois guardar na carteira
.
Não
deixar o sapato nem chinelo virado, que também dá azar...
A
verdade é que, superstição é igual opinião : __ Cada um tem a
sua.
Mas
sempre vai existir também a figura do incrédulo !
Aquele
cético que não acredita mesmo em nada sem um bom motivo.
E
duvida é de tudo que é ditado popular, crendice, ou tradição que
existe .
Lembrando
o famoso SÃO
TOMÉ
. O apóstolo de JESUS , que tendo diante de si o mestre
ressuscitado. Ainda duvidava do que os seus próprios olhos viam...
Num tempo em que quase todo o BRASIL, e principalmente o ESTADO DE MATO GROSSO. Eram mesmo mais mato do que cidade.
Num tempo em que quase todo o BRASIL, e principalmente o ESTADO DE MATO GROSSO. Eram mesmo mais mato do que cidade.
O
BARNABÉ de SOUZA, é que era um desses descrentes.
Era
alegre e de bem com a vida, mas... Um verdadeiro cético !
Diziam
que manga com leite faz mal . E o BARNABÉ quis experimentar só pra
ver o que aconteceria. E nada aconteceu felizmente !
__
" Em porco, o que faz mal mesmo é a faca" _ disseram os
seus amigos zombando dele.
Falavam
que não presta assobiar de noite . Mas o BARNABÉ vivia fazendo
isso. Tanto na noite como durante o dia. Juntava as duas mãos e
soprava aquilo tirando um som estridente e oco o tempo todo.
Até
que pegou uma grande prática nessa arte. Parecia um flautista.
Apesar
que tocava melhor mesmo era a sua viola...
Alguns
lugares tinham a fama de ser mal assombrados . E isso também o
BARNABÉ nunca levou a sério.
Achava
que tudo não passava é de exageros do povo. Tudo Besteiras !
De
Gente que vivia com medo de coisas de outro mundo atoua .
Todo
mundo sabe que não presta dormir de chapéu !
BARNABÉ
também sabia . Mas nunca se importou com isso !
Às
vezes não tirava nem as esporas antes de ir dormir.
Que
dirá as botas e o chapéu .
Num
certo dia ele vinha a cavalo pra sua casa . Passou pelo sítio do
seu amigo . Compadre Anésio .
E
Dona Marília e Seu Anésio estavam ali sentados na varanda, e o
chamaram , quando viram passar na estrada .
__Vamos
chegar compadre BARNABÈ ! Como que vai o sinhor ?
Tudo
em paz ?
__
Ô Seu Anésio. Boa tarde Dona Marília. Como é que vão vocês ?
_
Tudo bem compadre Barnabé. E o sinhor, ta vindo de onde essa hora ?
__ Tive que ir visitar minha tia Joana, que está meio adoentada...
_
Ai coitada ! E como é que ela está ?
È alguma coisa grave ?
__
Acho que não. Ela já ta mesmo velhinha e qualquer coisinha ela já
fica achando que já ta pra morrer. Mas não é nada sério não.
_
O sinhor já almoçou compadre ?
Não quer tomar um cafezinho ?
Ou então um bom dum tereré ?
__
Não, não . Saí de lá sem comer nada. Se tiver aí um
cafezinho...
_
O sinhor não quer almoçar então ?
Já é mais de uma hora e a fazenda é longe... Tem arroz, feijão.
Milho verde bem cozido, quiabo...
__
Brigado compadre Anésio. Aceito sim . Já to anté tinindo da
fome a essa hora ! Mas o sinhor num tem aí uma carne com mandioca
?
_
Olha compadre, carne não tem. Tem ensopado de peixe. O senhor sabe
que na semana santa a gente aqui não come carne...
__
Que bobagem compadre ! Eu não dispenso uma carninha num almoço
nem na sexta feira santa ! O vigário que mi adisculpe !
_
Bom, ontem os peão mataram dois veado mateiro e nois não comemos
tudo. Deve ter aí um pouco da carne, eles iam salgar pra fazer o
charque e um pedaço de fígado...
_
Se o sinhor quiser eu posso preparar ...
__
Claro ! Se não for incomodar a sinhora Dona Marília ...
_
Que nada compadre Barnabé . É
Com muito gosto ...
__
Já faz um tempão que eu não como carne de caça.
Dona
Ramona e Dona Marília prepararam um banquete pra servir ao compadre
Barnabé .
Mas
a cozinheira ficou escandalizada com o fato de o Barnabé querer
comer carne logo na semana santa.
__
Patroa, será que o seu Barnabé não sabe que na semana santa a
gente não pode comer carne ?
A sinhora devia falar pra ele não fazer uma coisa dessa . È até
um sacrilégio . _ e danou a fazer o sinal da cruz várias e várias
vezes .
__
O Barnabé é mais teimoso do que uma tropa de mulas Ramona . E nem
adianta falar nada .
Até
parece que você não conhece aquele galhofeiro !
_
Qualquer dia desses Deus castiga o seu Barnabé por ele ser tão
relaxado desse jeito ! Aí ele vai ver o que é bom ...
__
Acho que Deus tem mais o que fazer do que se preocupar com quem não
acredita em nada como o Barnabé , Ramona .
_
Quando acontecer alguma coisa, ele que não diga que ninguém avisou
.
E
o Barnabé si fartou de comer .
Porque
estava com tanta fome por ter passado demais da hora de almoçar, que
sentia ter era um buraco no lugar do estômago .
E
comeu toda aquela carne ... Ou melhor, o fígado .
E
sem um pingo de peso na consciência :
__
Mas quê que semana santa que nada ! _ pensava ele zombeteiro.
__
De estômago cheio a vida fica muito mais feliz ...
Barnabé
ficou um pouco mais com seu Anésio e a Dona Marília , só pra não
fazer à moda do que faz o cachorro vira-lata .
Que
acaba de comer e sai correndo ...
Mas
ele já tinha mesmo que ir pra casa .
Todo
o mundo sabe que um tempo depois do almoço vai ti dando uma moleza.
Meio que uma preguiça inrresistível .
Por
isso é que se tinha o costume de dormir um pouco após o almoço.
Sestiar , era como se chamava esse cochilo.
Diziam
' eu vou sestiar' , ' ele foi sestiar ' , " ela foi sestiar
um pouco " ou " agora nós vamos sestiar " ...
E
a sésta , ou siesta como alguns dizem. Era um dos poucos costumes
que o Barnabé ainda respeitava , embora não fosse lá muito
freqüente .
Nesse
dia ele estava mesmo cansado .
E
vinha pensando se não era mesmo bem melhor , ter ficado um pouco
mais lá na casa do Compadre Anésio .
Esticado
em alguma rede bem confortável.
Agora
com aquele sol pelando nas costas. E já vinha se chacoalhando nos
lombo do cavalo o dia inteiro ...
Viu
uma figueira enorme na beira da estrada , perto de um mato alto .
Havia pegadas recentes de vaca . Tinha passado uma boiada há pouco
tempo por ali . Mas tudo estava tranqüilo e silencioso à sua
volta ...
Acontece
uma coisa muito curiosa com as figueiras . Muita gente diz , e
acredita firmemente que são dadas a atrair assombração .
E
ser um abrigo dos fantasmas e almas penadas de todos os tipos .
Claro
! Aquela figueira centenária dicerto também já tinha HISTÒRIAS
pra contar ...
Mas
é claro que o Barnabé não ia se importar nem mesmo se tivesse se
lembrado disso ...
Pra
não parar embaixo da grande figueira ...
Descrente
como ele era de tudo que é superstição !
Chegou
, forrou um cobertor , amarrou o cavalo e deitou numa raiz grossa
. Dormiu em seguida tranqüilo e sossegado .
Mas
depois de um tempo , acabou acordando de chofre , todo assustado .
O
cavalo estava inquieto , muito inquieto , e relinchou .
Meio
querendo correr . Com medo !
__
É onça ! _ ele pensou . Homem do campo que era . Caçador.
Acostumado
a todo tipo de surpresas e perigos . Pegou a sua garrucha e ficou
alerta . Olhando ao redor . Vigiando .
Nisso
o cavalo se soltou e saiu disparado a galope.
Barnabé
olhava à sua volta tentando ver a pintada que ele acreditava estar
rondando por alí... Mas não via nada .
Logo
ouviu ao longe uma voz horrível que berrava meio que num lastimoso
gemido :
__
Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO !
Ai
! Ai Ai Ai Ai Ai , MEU FíGADO !
Barnabé
sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo todo .
Era
um homem valente . Mas agora tremia de medo como se já fosse
morrer . Tava quase se borrando todo ...
Porque
aquela voz estava vindo em sua direção gritando :
__
Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO !
Ai
! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO ! _ gemeu ela de novo .
E
Barnabé tentando se dominar , pensou em sair correndo dali
imediatamente. Mas viu que as pernas não lhe obedeciam .
Só
tremiam o tempo todo . Mas nada de querer sair do lugar . Enquanto
a voz horripilante vinha se aproximando :
__
Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FÍGADO !
Ai
! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO ! !
_ E de repente sai uma voz vinda da sua própria barriga , e responde :
_ E de repente sai uma voz vinda da sua própria barriga , e responde :
__
FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
E
agora , quando a voz falava Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO
!
Dentro
da barriga , a outra voz toda alvoroçada dizia :
__
FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
Parecia
que milhares de sapos cururus saltavam alí dentro .
E
coaxavam em resposta à aproximação da voz maligna saída do
capinzal alto . E cada hora a voz vinha de uma direção diferente
...
Pareceu
vir detrás dele . E do alto da árvore . Do meio do mato .
E
só dizia a toda hora :
__
Ai ! Ai Ai Ai Ai Ai MEU FíGADO ! !
E
a barriga : __ FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
Finalmente
o bicho que vinha , saiu do meio do mato .
Era
uma assombração . Ou sei lá o que ! Um monstro tão feio que
mal se podia olhar pra ele .
Era
marrom escuro , e tinha um focinho de lobo guará . Com enormes e
afiados dentes . Que ficavam quase todos à mostra .
Mesmo
que a boca estivesse fechada .
E
os olhos esbugalhados eram enormes .
Andava
sobre duas pernas peludas que lembravam ao tamanduá bandeira.
As
patas eram grandes e arredondadas com garras longas e curvadas .
No
alto da cabeça grande e redonda de macaco , Havia uma galhada de
cervo e enormes orelhas que eram decaídas , parecidas as de um boi
.
E
o Barnabé sentia dores terríveis no estômago toda vez que saía de
seu bucho aquele estranho coaxado :
__
FíGADO ! FíGADO ! FíGADO !
_
em resposta aos gemidos do monstro horroroso .
Vendo
que o bicho vinha em sua direção ele até quis correr .
Mas
a dor que ele sentia era tão forte que ele desmaiou ainda antes de
poder sair da sombra da grande figueira ...
O
Barnabé acordou ainda em tempo de ver quando aquele monstro ia indo
embora.
E
ia balangando um enorme rabo listrado de marrom e branco .
Que
fazia lembrar os quati mundéu ...
A
dor da barriga tinha parado . Mas sua camisa agora estava cortada
na barriga , pela metade . E uma cicatriz enorme fazia coçar a
pele como se ele tivesse se esfregado no capim . Ou jogado pó de
mico ali por cima.
Ele
se levantou e viu que agora já podia andar .
Só
que se coçava que nem um louco.
Foi
em busca do cavalo e saiu seguindo as suas pegadas . Mas só o
encontrou muito longe .
Dois
quilômetros de distância mais adiante, pastando .
E
ele se assustou e quis fugir . Mas Barnabé o pegou pela corda e o
dominou com facilidade .
Quando
chegou em casa ele sentiu foi é vergonha de contar o que lhe tinha
acontecido .
E
ninguém ia acreditar nele mesmo ... Ou iria ?
Não
que alguma vez em sua vida , ele tivesse andado com mintiras .
Mas
se nem ele acreditava direito em tudo aquilo por que tinha passado .