OS TRES FANTASMAS E OS FIGOS
Teve
uma época do passado, faz muito, mas muito tempo mesmo.
Que
o mundo parecia ser muito imenso de tão grande que ele era...
Nessa
época tudo era sempre muito longe e muito afastado.
As
notícias e as novidades eram coisa rara de chegar.
Toda
casa era feita de acordo com a vontade e as posses do seu dono.
E
as ruas eram muito largas e as estradas sempre usadas em excesso e
quase nunca em condição que seria a ideal.
Não
havia asfalto nem calçadas, e a chuva deixava lamas e grandes
buracos em toda parte.
E
o movimento das pessoas e o tempo seco deixavam nos ares a famigerada
poeira.
Os
animais e os grandes veículos carros de boi e carroças
deixavam
nas ruas as suas marcas.
E
os bichos de todos os tamanhos deixavam no solo o seu esterco.
A
vida era muitíssimo mais animada do que hoje !
Sendo
muito menor a quantidade de ruas e estradas .
Elas
eram bem mais importantes e mais usadas por maior número de pessoas.
Havia
modernas e bonitas casas. E casarões tão antigos. Mas bem antigos e
com a aparência da riqueza imensa que no passado
existiu.
Uma
bela chacrinha que tinha uma dessas casas era a do
Manoel
Ferreira. Um homem muito orgulhoso do pomar que existia em suas
fertilíssimas terras.
Tudo
que é tipo de planta ou árvore frutífera que alguém pudesse
imaginar o Manoel Ferreira tinha lá na sua estância, bem cuidada e
dando fruto em seu pomar.
E
com tanta fruta que até perdia e desperdiçava.
O
Manoel Ferreira colhia para vender, e até presenteava os amigos e
os bons vizinhos.
Naquele
tempo não era raro como hoje ter Bons Vizinhos.
Mas
nem de longe ele conseguia acabar com tanta fartura de cada safra em
suas terras.
A
esposa do Manoel Ferreira, a dona Solange o ajudava a cuidar e a
colher das plantas e frutas tantas e tamanhas que lá havia...
Mas
o mundo sempre foi um lugar de inveja e mesquinharias não é ?
Assim
como sempre foi e jamais vai deixar de ser o lugar das coisas mais
fantásticas acontecerem...
Começou
a aparecer que andariam mexendo tarde das noites e altas madrugadas
nas coisas do Manoel ferreira...
Racharam
suas melancias, chuparam suas laranjas.
Roubaram
os seus abacates, as suas goiabas, jabuticabas, suas carambolas.
Mexeram
em suas uvas, no jenipapo, na jaca, nas mixiricas, no bananal. No
mandiocal, no abacaxi.
No
jambo.
E
aquilo foi deixando aos pouquinhos o Manoel Ferreira
maluco!
Ele
já tinha mesmo um ciúme doentio das suas plantas.
Para
se ter uma ideia, ele não permitia nunca que jogassem pedras nem
paus nos pés de mangas.
Não
se podia derrubar as folhas dos pés de goiaba nem de jambo.
Nem
de qualquer outra planta. Ele ficava louco toda vez que via que
alguém derrubou as frutas verdes e por isso
ainda
impróprias para comer.
Acabava
se irritando até com algumas espécies de
passarinhos,
como os sanhaços que perfuravam os frutos do mamão quando estavam
maduros no pé.
Com
essa onda de passarem as cercas e pegarem as frutas sem pedir então!
De
tanto ser alvo dos misteriosos larápios e vândalos, com o tempo o
Manoel foi ficando ranzinza e mesquinho.
Já
não permitia mais que entrassem em suas terras para colher mais nada
…
__
Se ninguém mais entrar aqui, não vão mais saber onde estão os pés
de frutas maduras e não viriam buscar mais coisa nenhuma . - pensou
ele.
Também
deixou de levar e convidar as vizinhanças com as delícias nascidas
em seu pomar.
A
ideia de estar sendo bom e cordial com algum dos invasores que
andavam levando prejuízo às suas terras lhe dava vira voltas no
estômago.
E
para não ser bom com ladrões agora já não era bom com mais
ninguém !
Passou
a ficar um homem rabugento.
Desconfiando
de Deus do vigário e de todo mundo...
Tentou
colocar dois cães vindo de longe da fazenda.
Para
tomar conta da sua propriedade e essa ideia também não deu certo
para variar.
Os
cães fugiram e aprontaram bagunças por todo o terreiro. O cachorro
maior que era marrom bem escuro fugiu para bagunçar pelas ruas.
Enquanto
o cachorro menor que era amarelo foi cavar em meio ao jardim bem
cuidado da Dona Solange e destruiu tanta planta que o Manoel Ferreira
teve que se livrar dos dois cachorros.
Depois
ele pensou em fazer armadilhas ao longo do terreno. Mas iria dar
tanto trabalho que logo ele abandonou também essa ideia.
Quanto
mais os dias passavam, mais resmungão o Manoel Ferreira ficava. As
pessoas jogavam piadinhas para ele sempre que o encontravam na rua ou
nos lugares.
__
Cuidado em Manoel, logo vai estar chegando o tempo do caju . E os
seus cajueiros dão o melhor caju da região.
E
este ano vai dar mais ladrão do que frutos nos pés do seu cajueiro
! Ah ah ah ah
Isso
também irritava extremamente o Manoel Ferreira...
Um
dos grandes males do mundo é a inveja, um troço que corrói por
dentro o coração do ser humano que não sabe resistir a ela.
E
um desses grandes invejosos era o vizinho do Manoel Ferreira. O Seu
Joaquim Cardoso.
O
tempo todo houve sempre alguma desavença entre a raça dos Ferreira
e a raça dos Cardoso.
O
Manoel Ferreira se casou com dona Solange e o Joaquim Cardoso
pretendia ir pedir a mão dela e tinha ficado muito frustrado.
E
todas as plantas que ele sabia que o Manoel Ferreira cultivava. O seu
Joaquim também tinha e não produziam bem como as do seu rival.
E
a mulher do seu Joaquim não era melhor cozinheira e nem doceira do
que a dona Solange.
Ou
seja, no fundo tudu parecia estar contra ele.
Mas
o pior de tudo é que além dele ter a inveja, nunca ele tinha
tido
a educação de esconder !
E
deitava falatório disso por toda a região.
__
Se as minhas goiabas fossem tão boas como as goiabas
do
Manoel Ferreira eu ia fazer a melhor goiabada cascão
que
já se viu aqui na redondeza!
Se
o meu pasto fosse bom como os pastos do Manoel Ferreira, eu faria o
melhor e mais saboroso queijo que já se provou por estas terras !
Se
as terras do Manoel Ferreira não fosse o melhor lugar para se
plantar os pêssegos, jaca, uva, cana de açúcar, mangas, as
laranjas...
Toda
aquela inveja que o Seu Joaquim demonstrava, fazia muito o Manoel
Ferreira pensar se não era o seu Joaquim quem furtava de noite em
suas terras, os frutos do seu tão afamado pomar...
Quem
sabe até não foi ele ?
__
Sim, já que nas terras dele nunca dá nada .
Seu
Manoel Ferreira mantinha ainda o saudável hábito de nunca, nunca
pensar o mal das pessoas.
Mas
aquela inveja do Joaquim era demais !
Ele
era louco por jabuticaba e o Manoel Ferreira até lhe
fez
uma vistosa muda.
Já
estava grande com mais de um metro quando o Seu Joaquim levou.
Mas
dois dias depois tinha secado !
Aconteceu
a mesma coisa com a muda da carambola,
da
jaca, das água pomba.
Toda
muda viçosa do Joaquim se secava misteriosamente em poucos dias.
A
explicação era que alguém naquela casa tinha um bom dum “mau
olhado” ! Só podia ser mesmo isso.
Luís
Pacheco, também conhecido por “ Luís das onças”
era
o sujeito que sem sombra de duvida era o verdadeiro culpado de todos
os desgostos e prejuízos que o Manoel Ferreira vinha sofrendo.
Luís
das onças tinha um irmão e um primo que eram iguais a ele. Os três
tinham “ espírito de porco “ !
José
das onças era mais novinho e o primo se chamava Pedro Ortelino.
E
o Luís mandava o irmão e o primo trepar no alto das árvores e
vasculhar os terrenos do Manoel Ferreira em busca de todo tipo de
frutos maduros que os três pudessem ir la comer ou carregar.
Deixavam
cascas, sujeiras e marcas por onde passavam.
Mas
eram mestres em se esconder, tocaiar i ir a toda parte sem deixar
rastros.
Eram
uma família simpática e muito conhecida por toda
aquela
região.
Num
lugarejo feito aquele que não tinha nem lei, aqueles eram os homens
certos para caçar os escravos fugidos.
Os
bandidos que se escapavam da justiça.
Ou
caçar as onças e os pumas selvagens que sempre causavam grandes
prejuízos nas fazendas .
Eles
cobram um preço até razoável de modo que não era dispendioso
contratar os seus serviços.
Num
belo dia o dono da venda, pilheriando o Manoel Ferreira sem querer
iniciou a crise :
__
Já está chegando os tempos do figo em Manoel Ferreira. Cuidado com
os ladrões ! ah ah ah ah ah
Vou
querer muitos potes do doce da Dona Solange esse ano.
Manoel
ferreira passou três dias remoendo tudo aquilo. Taciturno.
__
Mas que bicho foi que te mordeu homem ? Porque foi
que
você agora só anda tão emburrado ? - Dona Solange não o entendia
mais.
__
É que agora já chega ! Eu tomei uma decisão...
Mas
você decidiu foi o que Manoel ?
E
do que está falando ?
__
Eu já disse que chega, mulher. Vou esperar esses ladrões que vem
aqui só fazer dano. E eles vão sentir o gosto do chumbinho da minha
espingarda .
_Agora
que esse homem ficou louco ! - pensou a mulher apavorada.
Mas
conhecia muito bem a teimosia do marido.
E
não disse coisa alguma nem inquiriu mais nada.
O
tempo foi passando e ela comentou com a sua mãe Dona Valquíria que
tipo de loucura o seu marido andava querendo fazer...
E
fez assim a coisa maios errada que uma pessoa pode fazer.
Contar
a terceiros as coisas que acontecem lá em sua casa.
Dona
Valquíria até que gostava do seu genro. E tinha sido a vida toda
uma mulher bastante discreta.
Mas
agora viúva e morando sozinha em sua casa na cidade, se sentia muito
só e sem assunto...
Foi
ela que não viu mal algum em contar para a sua melhor amiga o que a
sua filha havia lhe falado.
Por
sua vez a dona Silvia que também não era de falar muito só contou
para a sua vizinha a loucura que estava planejando o compadre Manoel
Ferreira .
Dona
Feliciana também não era de falar muito e contou apenas para a sua
irmã Jacinta.
Jacinta
também não era de falatórios e só contou para a sua melhor amiga
Marialva.
Marialva
só contou para a sua prima Jussara.
E
essa sim, era uma grandíssima duma fofoqueira.
Espalhou
pra quem queria ouvir, que agora o Manoel ia pegar em armas e
combater os ladrões.
E
montava guarda todas as noites em sua propriedade à espera
e
na surdina.
Tal
informação não demorou a cair em ouvidos do Luis das
Onças
através da esposa dele. Que nem imaginava nada das atividades
noturnas pelo pomar dos vizinhos.
O
caçador Luis das onças era um homem de ação e ao saber da decisão
tomada pelo Manoel Ferreira não se intimidou nem um pouco com isso.
Ele
sabia que numa guerra a melhor arma, a verdadeira arma era a
informação.
Era
importante o mais que tudo, conhecer os pontos fracos do inimigo para
poder explorar quando fosse necessário.
Todo
mundo na cidade tinha conhecimento das valentias do Manoel Ferreira.
Mas sabiam também o quanto que ele morria de medo de coisa do outro
mundo.
O
Saci Pererê. A Mula Sem Cabeça. O Boi Tatá. O Lobisomem. O Curúm
Tum-Tum...
Mas
o que ele tinha um medo que se pelava mesmo era de fantasma !
E
era nessa fraqueza do adversário que o Luis das Onças resolveu
atacar.
Fez
muito bem bolado o seu plano, na certeza que iria vingar.
Mandou
vigiar muito bem os terrenos do Manoel Ferreira para saber em que
época os seus figos estariam maduros.
E
queria saber também todos os passos do seu vizinho
Manoel
Ferreira. Depois de poucos dias descobriu afinal o que tanto queria
se inteirar.
O
adversário iria se esconder para vigiar, no alto de um grande pé de
cumbarú de onde poderia avistar os seus preciosos figos maduros.
E
de lá ia mandar chumbo nas raças dos invasores do seu quintal.
E
depois disso os três fizeram muito bem bolada a sua estratégia de
ação.
Mandou
fazer na casa de um amigo seu que era alfaiate uma fantasia com um
lençol muito branco e muito grande, era a sua roupa de fantasma.
E
cada um dos três ficou com uma roupa para se fingir de assombração
quando chegasse o momento.
O
Luis das Onças o José das Onças e o primo Pedro Ortelino.
E
logo que descobriram que os figos estavam suculentos e no ponto da
colheita. Os três fantasmas foram até lá pregar o maior susto que
já se teve notícia na cidade.
O
pobre e inocente do Manoel Ferreira reunia toda a sua coragem . A valentia, e montava
guarda durante as suas madrugadas cuidando de seus preciosos figos.
Nessa
fria madrugada quando ele estava já entediado e quase caindo de sono.
Parecia ser uma noite bem comum.
Com aquela pouca claridade daquela noite .
O ataque planejado pelos meliantes começou a acontecer. De algum lugar que ele não conseguia saber onde Vinham barulhos os mais diversos.
De metais se tinindo e retinindo. Tipo correntes se arrastando . coisas que caiam e se quebravam como se uma manada de bufalos selvagens estivesse entrando em suas terras.
E uns gritos : Aaaaaaúú Aaaaaúúúú Aaaaaaúúú.
Veio aquela voz tenebrosa gritando : __ QUANDO NÓIS ÉRAMOS VIVOS !
De um lugar diferente uma voz ainda mais potente gritou : __ NÓIS CUMÍAMOS MUITO FIGO !
Mas uma terceira voz daquelas coisas barulhentas de uma outra direção também gritou : __ AGORA QUE ESTAMOS MORTOS AQUI VÃO OS NOSSOS CORPOS !
E todas aqueles vozes em coro já se aproximando dos figo começaram a gritar : __ ALMA DA DIANTEIRA ! PEGA O MANOEL FERREIRA !
Do meio do seu esconderijo . O corajoso Manoel Ferreira mal enxergou aqueles três vultos enormes que vinham vindo correndo em sua direção, gritando pelo seu nome . Ele já pulou de sua árvore e correu todo se tremendo pra sua casa.
E nunca mais se pôs em espera pra cuidar de nenhum daqueles pés de fruta que ele continuou cultivando naquele local ...
Parecia ser uma noite bem comum.
Com aquela pouca claridade daquela noite .
O ataque planejado pelos meliantes começou a acontecer. De algum lugar que ele não conseguia saber onde Vinham barulhos os mais diversos.
De metais se tinindo e retinindo. Tipo correntes se arrastando . coisas que caiam e se quebravam como se uma manada de bufalos selvagens estivesse entrando em suas terras.
E uns gritos : Aaaaaaúú Aaaaaúúúú Aaaaaaúúú.
Veio aquela voz tenebrosa gritando : __ QUANDO NÓIS ÉRAMOS VIVOS !
De um lugar diferente uma voz ainda mais potente gritou : __ NÓIS CUMÍAMOS MUITO FIGO !
Mas uma terceira voz daquelas coisas barulhentas de uma outra direção também gritou : __ AGORA QUE ESTAMOS MORTOS AQUI VÃO OS NOSSOS CORPOS !
E todas aqueles vozes em coro já se aproximando dos figo começaram a gritar : __ ALMA DA DIANTEIRA ! PEGA O MANOEL FERREIRA !
Do meio do seu esconderijo . O corajoso Manoel Ferreira mal enxergou aqueles três vultos enormes que vinham vindo correndo em sua direção, gritando pelo seu nome . Ele já pulou de sua árvore e correu todo se tremendo pra sua casa.
E nunca mais se pôs em espera pra cuidar de nenhum daqueles pés de fruta que ele continuou cultivando naquele local ...
F I M
Nenhum comentário:
Postar um comentário