Nessa época eu tava num som que teve na escola, era
muito dez aquele tempo.
Todas as festas que tinha eu ia lá e
encontrava a galera toda, e a gente bagunçava muito.
Daí acontecia
cada coisa, tinha brigas, bebida, muita zorra mesmo.
Como eu disse antes a gente tem a vontade ou o poder de
ser o herói da nossa própria história.
Daí eu sempre penso, porque as pessoas mentem ?
Ou é porque gostam, porque precisam, porque tem a
vontade...
Vai lá saber, não é ?
Mas a minha pergunta aqui nessa história é se você
alguma vez já mentiu?
Sem precisar, sem ter vontade.
Sem
gostar de mentiras.
E sem você ter benefício algum ?
Pois é, naquela época meu bairro era barra pesada!
Até hoje a COHAB ainda é fogo !
Mas naquele tempo... aff
Eu
tava no som na escola, e tava tendo um bingo no pátio coberto bem na
frente da cantina.
Onde tinha muitas cadeiras.
E
naquele dia o prêmio era uma bicicleta novinha que o dono da
bicicletaria do bairro reformou para doar e que tinha ficado ótima.
Eu sempre fui um azarado da pior espécie.
Todo tipo de
desgraça vivia a acontecer comigo. Fora que muitas vezes eu mesmo
era o causador das piores coisas que me ocorriam e me prejudicavam.
E
tem gente que parece que nasceu de bunda virada para a lua.
Vivem dando sorte em tudo o que fazem...
Esse episódio foi assim também.
Tinha um garoto branco, magrelo e mais novo, menor que
eu.
Ele tinha um nariz fino e o cabelo liso, e eu conhecia
ele da escola mas a gente se falava bem pouco.
E
adivinha se não era esse magricelo que ganhou a droga do bingo ?
Virou
de repente o dono daquela famosa bicicleta !
Vai ter sorte assim lá na casa do carvalho você
poderia pensar.
Mas acontece que aqui tinha sempre gangues e
maloqueiros.
Tinha um neguinho que era uma praga e também tinha um
parentesco com o chefe da gangue daqui das áreas.
Agora pensa se o malandrinho num cresceu os zóios pra cima da
bicicletinha do moleque que ganhou no bingo !
Daí o João Magrelo, mais conhecido por Quati, me viu
de bobeira por ali e veio me perguntar se poderia falar para as
pessoas que a bicicleta era minha.
Na verdade eu não gostei nada dessa gracinha.
Mentir, sempre pode ser grave e até acarretar algum
prejuízo para quem mente.
E
me pareceu que isso sim poderia dar algum tipo de problema pra mim.
Na minha visão cada pessoa tem o dever e até mais do
que isso, tem até a obrigação de saber se virar e resolver os seus
próprios problemas.
A vida afinal, é dura pra todo mundo.
Li
em algum lugar que é obrigação do homem macho catar as suas
próprias pulgas.
Eu
na hora falei que não mas ele explicou que queria levar a
bicicletinha pra casa e iam roubar dele lá fora do portão da
escola.
Essa escola ficava na rua de cima da casa dele e era bem
pertinho poucas casas mais para a frente.
O
moleque estava lá sozinho com um irmão mais novo, deveria ter ido
com os seus pais, sei lá.
Ele foi lá dar uma volta e voltou falando que não ia
poder sair.
Eu
então concordei que ele falasse que a bicicletinha dele, era minha.
E
ele saiu e foi numa outra direção com o irmão menor e depois
sumiu.
Eu
tava ali parado olhando as pessoas circularem e não tinha mesmo nada
para fazer.
E
daqui a pouco quem é que aparece ali perto de mim ?
O
Amendoim, “ mudei o nome do cara para preservar a identidade dele
”.
Pelas leis da malandragem que vigora no país todo, e
aqui nas baixada também, quem é um cagueta morre cedo, sabe.
Pois o gurí veio perguntar pra mim se era verdade que
aquela bicicleta nova era minha mesmo.
Não basta só você mentir pelo jeito.
Tem
que dominar a coisa como se fosse uma arte até !
Eu falei que sim, era minha a bicicletinha.
E logo o
maloquerinho me informou que estava com aquele guri magrelo.
E
ele tava indo embora com ela.
Eu
quase que sorri da situação, mas falei bem sério para o bandidinho
: _ É sim, eu que ganhei.
__
Mas tem um gurí branquinho que tá levando ela.
__
É, eu sei, fui eu que mandei ele levar lá em casa...
_
falei bancando o poderoso, só que nem sei se ele acreditou nisso ou não.
Mas o que mais ele poderia dizer além de se conformar
que tava com o guri por ordem minha.
Era numa bicicleta pequena para o meu tamanho, de forma
que eu poderia dizer depois que vendi pra ele.
Não deu nenhum prejuízo pra mim, falar que a droga da
bicicleta era minha.
Também não sei que fim levou o Quati com aquela
bicicleta.
Se
o “ Amendoim ” ainda queria pegar a bicicletinha dele depois
daquela vez.
Isso foi pra mim, uma vez que uma mentira que é coisa
que eu sempre detestei.
Foi algo útil pra alguém que não tinha nada
que ver comigo.
Como que a gente deve decidir se as mentiras que a gente
conta podem ajudar ou prejudicar alguma outra pessoa...
Você se meteria num caso para salvar um estranho ?
E
se isso pudesse te complicar de alguma maneira e tu soubesse disso, ajudaria alguém mesmo assim ?
Todo mundo diz que mentir é errado, mentir por um
estranho, e sem ganhar nada, ainda assim é estar sendo mau ?
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