segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MENTIR, É SEMPRE ERRADO ?



 Nessa época eu tava num som que teve na escola, era muito dez aquele tempo.
  Todas as festas que tinha eu ia lá e encontrava a galera toda, e a gente bagunçava muito.
  Daí acontecia cada coisa, tinha brigas, bebida, muita zorra mesmo.
  Como eu disse antes a gente tem a vontade ou o poder de ser o herói da nossa própria história.
 Daí eu sempre penso, porque as pessoas mentem ?
Ou é porque gostam, porque precisam, porque tem a vontade...
 Vai lá saber, não é ?
  Mas a minha pergunta aqui nessa história é se você alguma vez já mentiu?
  Sem precisar, sem ter vontade.
 Sem gostar de mentiras.
  E sem você ter benefício algum ?
Pois é, naquela época meu bairro era barra pesada!
Até hoje a COHAB ainda é fogo !
  Mas naquele tempo... aff
  Eu tava no som na escola, e tava tendo um bingo no pátio coberto bem na frente da cantina.
 Onde tinha muitas cadeiras.
E naquele dia o prêmio era uma bicicleta novinha que o dono da bicicletaria do bairro reformou para doar e que tinha ficado ótima.
  Eu sempre fui um azarado da pior espécie.
  Todo tipo de desgraça vivia a acontecer comigo. Fora que muitas vezes eu mesmo era o causador das piores coisas que me ocorriam e me prejudicavam.
  E tem gente que parece que nasceu de bunda virada para a lua.
Vivem dando sorte em tudo o que fazem...
  Esse episódio foi assim também.
  Tinha um garoto branco, magrelo e mais novo, menor que eu.
  Ele tinha um nariz fino e o cabelo liso, e eu conhecia ele da escola mas a gente se falava bem pouco.
  E adivinha se não era esse magricelo que ganhou a droga do bingo ?
 Virou de repente o dono daquela famosa bicicleta !
Vai ter sorte assim lá na casa do carvalho você poderia pensar.
  Mas acontece que aqui tinha sempre gangues e maloqueiros.
  Tinha um neguinho que era uma praga e também tinha um parentesco com o chefe da gangue daqui das áreas.
 Agora pensa se o malandrinho num cresceu os zóios pra cima da bicicletinha do moleque que ganhou no bingo !
 Daí o João Magrelo, mais conhecido por Quati, me viu de bobeira por ali e veio me perguntar se poderia falar para as pessoas que a bicicleta era minha.
 Na verdade eu não gostei nada dessa gracinha.
 Mentir, sempre pode ser grave e até acarretar algum prejuízo para quem mente.
  E me pareceu que isso sim poderia dar algum tipo de problema pra mim.
  Na minha visão cada pessoa tem o dever e até mais do que isso, tem até a obrigação de saber se virar e resolver os seus próprios problemas.
  A vida afinal, é dura pra todo mundo.
  Li em algum lugar que é obrigação do homem macho catar as suas próprias pulgas.
Eu na hora falei que não mas ele explicou que queria levar a bicicletinha pra casa e iam roubar dele lá fora do portão da escola.
  Essa escola ficava na rua de cima da casa dele e era bem pertinho poucas casas mais para a frente.
  O moleque estava lá sozinho com um irmão mais novo, deveria ter ido com os seus pais, sei lá.
  Ele foi lá dar uma volta e voltou falando que não ia poder sair.
  Eu então concordei que ele falasse que a bicicletinha dele, era minha.
   E ele saiu e foi numa outra direção com o irmão menor e depois sumiu.
 Eu tava ali parado olhando as pessoas circularem e não tinha mesmo nada para fazer.
 E daqui a pouco quem é que aparece ali perto de mim ?
  O Amendoim, “ mudei o nome do cara para preservar a identidade dele ”.
  Pelas leis da malandragem que vigora no país todo, e aqui nas baixada também, quem é um cagueta morre cedo, sabe.
  Pois o gurí veio perguntar pra mim se era verdade que aquela bicicleta nova era minha mesmo.
  Não basta só você mentir pelo jeito.
  Tem que dominar a coisa como se fosse uma arte até !
 Eu falei que sim, era minha a bicicletinha.
 E logo o maloquerinho me informou que estava com aquele guri magrelo.
 E ele tava indo embora com ela.
  Eu quase que sorri da situação, mas falei bem sério para o bandidinho : _ É sim, eu que ganhei.
__ Mas tem um gurí branquinho que tá levando ela.
__ É, eu sei, fui eu que mandei ele levar lá em casa...
_ falei bancando o poderoso, só que nem sei se ele acreditou nisso ou não.
  Mas o que mais ele poderia dizer além de se conformar que tava com o guri por ordem minha.
  Era numa bicicleta pequena para o meu tamanho, de forma que eu poderia dizer depois que vendi pra ele.
  Não deu nenhum prejuízo pra mim, falar que a droga da bicicleta era minha.
 Também não sei que fim levou o Quati com aquela bicicleta.
  Se o “ Amendoim ” ainda queria pegar a bicicletinha dele depois daquela vez.
  Isso foi pra mim, uma vez que uma mentira que é coisa que eu sempre detestei.
  Foi algo útil pra alguém que não tinha nada que ver comigo.
  Como que a gente deve decidir se as mentiras que a gente conta podem ajudar ou prejudicar alguma outra pessoa...
  Você se meteria num caso para salvar um estranho ?
  E se isso pudesse te complicar de alguma maneira e tu soubesse disso, ajudaria alguém mesmo assim ?
 Todo mundo diz que mentir é errado, mentir por um estranho, e sem ganhar nada, ainda assim é estar sendo mau ?






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