Eu
tinha passado a madrugada quase toda, acordado.
Daí levantei de manhã
lá pelas oito horas e minha mãe me contou um burburinho que tava
tendo.
E lá na COHAB é sempre assim , logo cedo a gente já
fica sabendo das novidades, fofocas e desgraças que estão
acontecendo.
A
bola da vez era que as crianças tinham se reunido na frente da casa na minha rua que estava vazia.
A família tinha viajado para passar as
férias em uma cidade turística qualquer.
O pai, a mãe e a criança
em idade escolar 8 ou 9 anos, sei lá.
O
filho mais velho tinha ficado, mas tinha saído para o trabalho
cedinho seis e meia ou seis horas. Quem vai saber ?
A
verdade é que desde as oito horas de uma linda manhã de sol, este
cachorro baixinho e perna curta que o povo costuma chamar de cachorro
lingüiça, cachorro salsicha, ou cachorrinho COFAP, por causa da
famosa marca de amortecedores de carro.
O
cão estava sozinho em casa, do lado de dentro.
E
querendo sair lá pra fora, ele cismou de meter a cabeça por debaixo
de uma fresta de porta.
Mas acontece que a sua cabeça ficou presa e desde as oito horas da manhã ele estava lá gritando.
Mas acontece que a sua cabeça ficou presa e desde as oito horas da manhã ele estava lá gritando.
Sendo enforcado e sem poder sair sozinho daquela enrascada.
Daí ao acordar a minha mãe me disse o que estava acontecendo.
Daí ao acordar a minha mãe me disse o que estava acontecendo.
Eu
nada falei e pouco depois estava dormindo outra vez.
Quando finalmente eu acordei outra vez, já devia ser
umas onze da manhã ou quase isso. De pronto já perguntei pra minha
mãe se sabia do caso do cachorrinho preso na porta.
Ela disse que nada sabia.
Disse que devia ainda estar grudado lá gritando com a cabeça debaixo da porta.
Eu então me dispus a ir até lá dar uma olhada, e tomar pé da situação.
Ela disse que nada sabia.
Disse que devia ainda estar grudado lá gritando com a cabeça debaixo da porta.
Eu então me dispus a ir até lá dar uma olhada, e tomar pé da situação.
Lembrei que eu tinha um molho de chaves de todos os
tipos, e levei para ver se poderia abrir o cadeado que trancava o
portão da casa para entrar no quintal e poder mexer no cão e tirar
a cabeça dele daquela posição forçada.
Tem um macete que as vezes o segredo de chave de um
cadeado pode
abrir outros segredos de uma mesma marca.
Também existe a possibilidade de se fazer uma
chave-mestra que abre qualquer segredo de cadeados, ou carros, ou
casas.
Isso se chama chave mixa, no jargão da polícia e das malandragem.
Isso se chama chave mixa, no jargão da polícia e das malandragem.
Os
ladrões costumam fazer isso para usar e invadir as casas e carros
que eles visam roubar.
Também recorre-se à força bruta, quando os outros
sistemas falham.
Pois bem, chegando lá vi o cachorro e soube que ele
devia estar com fome e com sede desde cedo naquela manhã.
Estavam os vizinhos e crianças todos ao redor e nada
podia ser feito dali do lado e fora.
Tinham tentado ligar para o rapaz dono da casa, sem
sucesso, a família viajando ele as vezes nem vinha almoçar em casa,
só iria chegar tarde, já de noite. E para quem tinha passado a
manhã todinha ali enforcado, a perspectiva não era nada de boa, não
acham ? Então eu tomei para mim a tarefa de retirar aquele animal
dali, com as minhas chaves não foi possível. Daí restava recorrer
para a força bruta não é mesmo ?
Sabem, eu acredito que mesmo as piores pessoas deste
mundo podem ter alguma coisa para nos ensinar.
Antes eu via um cadeado e pensava em segurança, eu
respeitava.
Um
dia um sujeito de quem eu nem gostava, porque ele tinha raptado e
tentado estuprar minha amiga. Me ensinou uma coisa.
Ele era uma verdadeira peste e detestado por quase todo
mundo.
Era drogado, tinha cumprido pena por assaltos e furtos.
Tinha só de queixas de estupros mais de dez!
O
pai dele era um policial aposentado e usava a sua influência para
evitar que ele cumprisse pena por estupro porque sabia que ele ia ser
pego, para pagar pelas duras leis da cadeia o que já fez.
Dai nessa noite eu e um vizinho estávamos em frente de
nossa casa ele apareceu com duas meninas tomando umas cervejas.
A
casa do lado da minha tinha passado um tempo muito longo fechada.
Estava posta a venda e nunca aparecia um comprador.
E
ele achou de arrombar o cadeado para as meninas poderem entrar na
casa vazia e fazer um pipi, já que todos eles estavam tomando
cervejas.
Num instantinho ele quebrou o vergalhão de ferro de um
muro do outro lado da rua, e foi lá e forçou o cadeado para abrir o
portão. Era um cadeado bem grande e muito grosso.
Ele era arrombador profissional, a cadeia as vezes
funciona como a verdadeira escola do crime. Eu até achei estranho
ele abrir aquele cadeado tão rápido. E pedi pra ele me mostrar como
que ele fazia para arrombar.
E
ele me falou, depois me mostrou, e assim eu aprendi a usar a força
bruta para abrir um cadeado. Só que era um conhecimento que eu
jamais em toda a minha vida pensei que fosse precisar usar...
Sempre é bom saber das coisas, e dessa vez para este
cachorrinho foi a salvação da lavoura um homem tão mau, ter me
ensinado uma coisa também ruim.
Eu
vim em casa peguei minhas ferramentas e voltei até lá na frente
daquela casa. Daí de posse do equipamento eu vi que poderia abrir
com facilidade aquele cadeado porque era fino e frágil o do portão
pequeno da casa. Enquanto que o do portão grande de correr era
muito forte para eu tentar usar nele a minha arte. Eu então tinha
perguntado para a minha vizinha que era do outro lado da rua. Dali em
frente da casa, se ela achava que poderia arrombar o cadeado para
salvar o cão. Se não teria problemas.
Ela disse que se eu pudesse arrombar que arrombasse logo
porque o cachorrinho estava lá sofrendo né.
Nesse ponto os cachorros até que são inteligentes. A
galinha é o animal mais estúpido que deus ou sabe la que capeta pôs
na face dessa terra. Se uma galinha ficar presa pela cabeça, ela se
debate e se puxa até quebrar as asas e estrangular-se pelo pescoço
e morrer sufocada.
Aquele cachorro já nem gritava mais coitadinho, apenas
nos olhava com aquela cara de pidão, e gemia baixinho quando a gente
falava com ele.
Era de uma cor marrom claro, quase caramelo o seu pelo.
Tinha a voz forte e um uivo até meio grosso para um cachorrinho
daquele tamanho. Me livrar do cadeado no fim foi a parte mais facinha
do salvamento.
O
vão da porta era estreito demais para caber aquele bicho. Eu peguei
uma viga que estava ali e era de escorar na porta e amassei um pouco
o metal puxando a ponta da viga por debaixo do ferro daquela porta.
Ela não cedia mais do que poucos milímetros, então me
passaram uma vassoura e eu me aproximei da cabeça do cachorro com
ela. Ele então entrou em pânico, começou a rosnar e a puxar a
cabeça para trás fortemente, mas não ia sair sozinho dali.
Eu peguei a vassoura e puxei para um lado onde a fresta
da porta se alargava ainda um pouco mais e por fim o cachorro retirou
a sua cabeça daquela prisão onde estava.
Ele se soltou e latia alegremente em mim e ficou lá
dentro da casa, onde havia água e comida nos seus pratinhos.
Eu
então saí e fechei de volta o portão e até coloquei de volta o
cadeado fininho no seu lugar.
Eu nem sequer tinha estourado aquele cadeado como me
ensinaram a fazer. Ele logo se abriu todo quando estava sendo forçado
e era tão frágil que nem precisou ser quebrado.
Alguém ainda me disse : __ Você é ladrão cara. Você
arrombou o cadeado !
Mas eu apenas ajudei o cachorro, e fiz o que achei ser
meu dever.
No
fundo gosto mais de animais do que de gente. Se não gostam de você
nunca os animais vão fingir e nem falar mal de tu pelas costas !
Claro que também um animal não saberá o que seja a gratidão.
Quando eu salvei ele, o bicho jamais poderia ver nisso um ato de que
ele se visse obrigado a retribuir. Nem ser grato.
Mas amizade de um cachorro em geral é para sempre, ele
não abandona quem é amigo nas dificuldades, não trai por dinheiro.
E
tinha o agravante que o cão pertencia a uma criança.
Já
teve muito caso de criança que até adoeceu só de perder a
companhia de seu fiel bichinho de estimação.
Depois fiquei sabendo que o nome do cachorro era
Natalino.
Bem, eu salvei o natalino.
Foi o bandido, arrombador e tarado quem me ensinou a
fazer a manobra que salvou, o pobre do natalino do sofrimento de
estar grudado pela cabeça embaixo do ferro daquela porta.
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